quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Uma coca-cola para sete amigos




Na adolescência, éramos um pequeno grupo de amigos: Limaverde,Cabral, Aquino, Betão, Ary Papicou, Petrola e eu; como sempre, andávamos juntos para muitas festas, caçadas, piscinas, ver os volteios das moças na “praça”, enquanto timidamente ensaiávamos, desafinadamente, os primeiros gorjeios e lânguidos olhares, cheios de suspiros. etc.etc.
Em uma certa noite, não nos lembramos o nome do evento, mas era alguma festa ligada a igreja estávamos em uma mesa no CTC e pedimos uma coca-cola, aquelas pequenas “botellas” de vidro, 350 ml., sete copos e colocamos bem no centro da mesa;nos damos as mãos,como em sessão espírita e olhávamos uns para os outros e olhávamos para ela:aquela pequena musa, em forma de garrafa, cortejada por sete ávidos adolescentes, que em reverencia ou prece silenciosa a fitavam, como se estivessem evocando alguma proteção dos deuses antes do sacrifício final ou como se em meditação profunda e transcendental buscasse inspiração antes de fazer a sacrossanta divisão e devorar a “vítima” .
Olhávamos profundamente pra ela,parecendo querer entender a mística dos momentos aprisionados nas janelas do tempo ou quem sabe,transparecer a filosofia de monge tibetanto,emudecidos e em silêncio sepulcral:nós,sete amigos,diante de uma presa indefesa,que inerte,como não poderia ser diferente,parecia aguardar silente o cumprimento do seu dever : ser divida,e aplacar a sede juvenil de sete bravos e heróicos adolescentes imberbes.Talvez,os que não nos conhecem,não creiam mas, parecia necessário alguém dizer algumas palavras,como epítáfio, para aquela que tombava para nos glorificar.Quem o faria e o que dizer?Que tal STTL dos romanos,( Sit tibi TAÇAS levis )Deveríamos fazer um registro histórico daquele momento? Fotografar? chamar o Mestre Júlio ? ou Mestre Vitalino da Batateiras para fazer uma escultura, alusiva aquele momento de beleza ímpar ,antes que aqueles “sedentos” devorassem aquela troiana líquida, que aplacaria a sede,calor e rubor ou alimentaria a volúpia cruel e espartana do fogo etéreo, dos seus hormônios efervescentes ;Naquele momento final e raro, onde predadores e presa se confrontava,como iniciados pitagóricos ou como quem não sabe o que dizer diante de um núcleo de curiosos que se acotovelavam ,cochichávamos um ao ouvido do outro,que passavam adiante num cerimonial iniciático.
Um sorriso “furbo”se formava nos nossos rostos puros , parecendo delinear o final dessa tragicomédia, que encenávamos de forma criativa ,enquanto discutíamos quem seria o “primeiro” dessa vestal Troiana que se insinuava com transparente veste, exteriorizando até sua “alma” negra ,não de pecado senão, dos corantes ,e dos odores saído de um ritual alquímico, que a tornava mais bela,exuberante e desejada.Parecíamos os sete cavaleiros,em volta daquela tavola, que acharam a relíquia sagrada:O santo Graal!

Enquanto resolvíamos o impasse, o momento se fez ou se desfez: quebra-se o encanto, são rompidas as amarras e expectativas do final que menos esperávamos,surge uma solução inesperada ,pois todo o nosso paganismo foi quebrado pela interrupção de: In hoc signo vinces , do anfitrião do evento,Mons.Rubens Lossio,ao dizer:
- Entendemos o protesto dos jovens e nos solidarizamos com eles:
-Garçom,pó favor,traga uma coca,para cada um .

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