quinta-feira, 29 de março de 2012

O medo na Adolescência.

...a adolescência tem,também, os seus fantasmas .Muitos deles associados ao drunkenness descontrolado, misturadas aos enjôos e ânsias tantas,de quase deixar a alma escapar junto com aquele acre odor de pinga barata misturada a coca, pra torná-la suportável seguido por “engovs”e uma maldita dor de cabeça que lateja até hoje,só em pensar....Tem fantasmas de todas matizes e cores.Tem até os cinzentos das noites de melancolia ,tristeza e abandono.Ah! E os fantasmas das kermesses?.Quando vemos uma kermesse,parece que estão ,todos ali numa composição:perfilados, em meio as velhas músicas , aos aplausos e flertes,que por um minuto nos tiram o fôlego...em meio aquela gente toda ,em vão a procuro... Mas, ela nunca está lá...
Nós, não tivemos a crise de Peter-Pan ou da Alice,querendo permanecer para sempre naquele mundo protegido e seguro que vivíamos.Pois esse “mundinho” também tinha seus percalços. Queríamos correr o mundo,ir além das colunas de Hercules e não podíamos nos quedar de braços cruzados esperando que esse passasse por ali.Mas também não imaginávamos das dificuldades de cruzar esse “mar” a nado.
Na adolescência os medos eram outros. Estavam associados aos nossos desejos trancafiados, as nossas vontades mais protegidas, que muitas assim ainda permanecem... Lamentos pelo tempo perdido,da nossa insensatez incontida e que ,ainda, não nos arriscamos revolver as camadas mais profundas, com medo de revelar o “irrevelável” ;nem mesmo sabemos o quê ou o porquê,mas se foram guardados por timidez ou vergonha , que assim permaneça para que não os despertemos e nos persigam, ou não nos perdoem as nossas pequenas tolices e desapontamentos.
Não mais escutávamos as histórias em volta da fogueira,embora fizesse falta, e ainda faz falta.As buscas eram outras,os medos precisavam ser dissipados com a água-ardente,e como ardia e nos causavam mal-estar.Era preciso se exibir, como que desdenhando outros, um cigarrinho, uma praxe de época da auto-afirmação.
Ali na esquina tinha um bar:”O Alagoano”.Nós costumávamos nos sentar nas mesmas cadeiras externas e esperávamos que elas por ali passassem e vissem que já havíamos crescidos e já até fumávamos – (as escondidas,claro!) - coisa que só adulto fazia.Àquela tarde estávamos ali e um único dos amigos tinha começado a fumar.Nós lhe pedimos:-Acende um “cigarrinho”.E ele disse:”_Agora,não .Deixa chegar mais gente!” Pode parecer patético,examinado de hoje.Mas para aqueles adolescentes, que precisavam de acender um cigarro para dizer que já eram homens,era o máximo.Tanto que precisava platéia para ver que já fumavam, tal qual os mitos hollywoodianos,inspiração de muitos.

Na adolescência os fantasmas que nos causavam medos já não eram o”papa-fígados”,da  primeira infância, que se escondia nos arbustos, parecia estar debaixo da cama, em cada esquina escura ou sob o manto da invisibilidade,no cicio das aves agoureiras.Nós  pressentíamos esse fantasmas em qualquer lugar.Agora,não .O medo era outro.Na adolescência,tínhamos medo do “hálito de rosas” juvenis que não nos deixava dormir e nos arrancava os suspiros profundos.Guardamos na memória o odor que exalava dos seus cabelos.Era um cheiro do flores do campo,nas frescas manhãs de primavera:suave e inebriante.Não era ela unicamente que ruborizava as faces, nós também.As vezes ruborizávamos às faces, em outras empalidecíamos e sentia gelar as pontas dos dedos e faltar “terra nos pés” ou até despertar pensamentos solitários no meio das fantasias noturnas.Mudamos tantas vezes.Tantos lugares novos,tantos rostos inspiradores,mas esses fantasmas apenas se multiplicaram e parecem que conversam entre si ...nos perseguem .Às vezes no meio do nada...um som qualquer,um perfume ou até um sombra na noite pode acordá-los e nos intimar a ver a sequência de lembranças que desfilam...



N a Grécia antiga existiram nove musas e na nossa adolescência,quantas existiram?
Alguém lembra da Lili???.Ah! Lili.Ah! Lili...Até nas aulas de telegrafia ... sempre nos lembrávamos dela na letra “L” cujo manipulador parece dizer:”vem cá LI-LI... Vem cá Li-Li!” .
A Lili e aquele seu vestido de bolinhas.Ela era “birolha”,mas tirava o sono de muito adolescente:sempre sorridente e feliz,com seus vestidos curtos,leves e esvoaçantes.O seu estrabismo era tanto e ,embora a nossa timidez, não nos intimidava em flertá-la,pois sempre achávamos que ela estava distraída ou olhando para o outro lado...
Um dia, o Tião(medonho)o nome dele era outro,talvez ,Chico Tião(?) sei lá já se passaram tantas kermesses desde então, que me escapa esses detalhes.Mas,afinal Chico Tião estava passeando de Rural ali na volta da Praça da Sé e tinha um aléia de altas árvores, separando as duas vias,mas não existia mão ou contra mão era,parece,livre o trânsito.A Lili estudava no colégio Diocesano e estava matando aula, sentada ali na praça.Ela usava um vestido curto , provocante e tinha um cruzar de pernas...Mein Gott! Ach du liebe zeit!
Coitado do Chico Tião, passeando de rural,não tirava os olhos das “pernas” da Lili.Acho que era a quarta ou quinta volta em torno da praça e de repente vem um carro na mesma via e em sentido oposto...detonou a rural do velho.Ah! Tudo por culpa da Lili...Ah essa Lili...Quem sabe hoje esteja irreconhecível,mais magra ou mais gorda,quem sabe ? A não ser pelo os seu olhos vesgos,que devem continuar os mesmos...
Restando o amor,preso a essas memórias,a única coisa que permanece sem ser desgastada pelo deus do tempo, que consome com voracidade os seus filhos...

quinta-feira, 22 de março de 2012

Circe e o político arrependido



"Republica dos Porcos"

Não lamentemos a vida que perdemos
Ou trabalho digno e honesto que tivemos
ou tampouco a esposa ou filhos que deixamos.
Não lamentemos, saudosos, a vida que já não temos
Ó filhos,filhas,amigos nessa pátria querida.
Tudo isso perdemos ,esquecemos
Como as alegrias dessa terra feliz
Por uma escolha desafortunada
E nessa nova pele, novos desejos nos vêm,
muito mais forte.
Nos levando, a cada dia mais, a ruína
Mil vezes aspiremos e peçamos a nossa própria morte
Para que nos livremos desse corpo abominável corrompido
Para que nos libertemos dessa vida miserável
Que por má escolha traímos a liberdade,a nossa pátria
e sacrificamos o futuro de nossos filhos
Piedade,Circe !
Não nos deixe morrer nessa escolha infeliz,
Como porcos convertidos nesse prostíbulo sórdido
E de preço e mácula tão obscenos.

Imitando Keats

terça-feira, 20 de março de 2012

Amizade Il était une fois trois amis:une femme et deux hommes

« L'amitié totale est universelle. Et seule l'amitié universelle peut être une amitié totale. Tout lien particulier manque de profondeur, s'il n'est ouvert à l'amitié universelle. »



Nos tempo de ginasiano tivemos muitos colegas. Alguns desses,além colegas se converteram em amigos e assim mantivemos esse coleguismo e amizade durante todo esse período escolar.Entre esses amigos havia um determinado grau de cumplicidade e é isso que nos aproximávamos e nos tornávamos mais coesos:nos irmanavam.E mesmo que não tivéssemos o mesmo sexo, isso era irrelevante,pois éramos simplesmente amigos.E a amizade prescinde disso.Os alicerces que elas se fundam,são muitas vezes incompreensíveis ao senso comum..Elas se apóiam em não ter exigências ou regras,os amigos e a amizade prescindem disso,talvez, exatamente por não ter exigências é que duram e se solidificam e são relembradas com esse ar de quem nos falta alguma coisa,um sentimento de “incompletude”.

Às vezes, de repente, alguma luz se acende e nos lembramos desses, parece que brotam dos labirintos de nossas “caves”reservadas, como aquele vinho de boa safra,onde as suas fisionomias :felizes,descontraídas em meio aos risos e brincadeiras e a grande alegria permanecem ,tal qual, como aconteceu, ali não envelheceram,se conservam com o mesmíssimo jeito e “trejeito” .Quando abrimos essas velhas “garrafas” guardadas nessas “caves”com tanto carinho e protegidos da “ferrugem” do tempo que acidifica os bons vinhos,como estragam as boas amizades,Eles estão ali incólumes,e assim permanecem e permanecerão ad infinitum,enquanto mantivermos essa chama acesa nos nossos “corações”.
Betão,(Roberto de Brito)Margarida Marques e eu formávamos por algum tempo uma amizade, que me recordo com bastante saudade e carinho.E o curioso nessa amizade, nesse triângulo que não era amoroso:dois homens e uma mulher, sem interesse escuso onde o elo que nos ligava, era unicamente a amizade ;às vezes a ignição que desencadeia esse relacionamento se deve as proximidades das cadeiras ,uma matéria em comum,sentar-se lá atrás.Não se sabe exatamente o quê .Tudo que sabemos é que embora hoje, tanto tempo já decorrido desde então,persiste de alguma forma latente e que se manifesta ,quando menos se espera.

Quando estudávamos em Porto Alegre também formávamos idêntica amizade com Ivã(de Vacaria)e a Mara de Rio Grande (cidade).E mesmo tendo voltado pra Santa Maria e me afastado do contato e convívio deles,ainda mantivemos essa amizade por muito tempo.A vida segue,como um rio nos aproximando às vezes das margens onde se formam essas amizades .Elas necessariamente não precisam estarem ligadas para sempre,para serem eternizadas nas nossas lembranças.E mesmo se perdemos o contato,mas de qualquer forma alguma coisa fica... caso contrário não nos estaríamos nos lembrando deles agora e ainda com certeza,inequívoca,esses certamente se lembram de alguma coisa presa a essa janela do tempo.
E curiosamente, podemos perceber que a amizade existente entre duas mulheres e um homem não é a mesma coisa,como a existente entre dois homens e uma mulher;a mulher interposta como amigos,entre dois homens, parece catalisar a amizade,como se intercalasse como um cimento de ligação, que unia os três.O mesmo fenômeno parece não ocorrer quando somos um homem; entre duas amigas,parece que elas sentem inveja uma da outra,ou ciúme ou quem sabe um deficit de atenção.Não sabemos o que pode desencadear tal comportamento...
Em Santa Maria no colégio Maria Rocha,estudamos em uma sala de aula que ,o clássico,éramos em 30 alunos e unicamente eu de homem.Tínhamos amizade incondicional a todas elas,lógico que tinha algumas dessas colegas que nos dávamos melhor e tínhamos mais parceria,cumplicidade,estudar juntos,etc,algumas outras tinham ciúmes,embora não tenhamos demonstrado interesse particular por nenhuma que pudesse desencadear tal atitude e éramos indiferentes a isso. Mas o fato de sentar,ora lá atrás ao lado da “Carmencita” de Arroio Grande e outras vezes,no oposto, me aproximar mais da Candinha(Bortoluzzi)com quem estudávamos francês,podíamos perceber os olhares atravessados... E como na Poesia “Quadrilha” de Drummond, acabamos ficando com aquela não tinha entrado na história...

Tem uma musica italiana que diz:” a lontananza , como o fogo extingue os pequenos incêndios e aumenta os grandes. Com a amizade não é diferente .As grandes distância não extingue esse fogo,pelo contrário o mantém aceso e a cada momento,se sopra um vento minuano,aviva aquelas brasas cobertas de cinzas e assim permanecem muito tempo acesas nas nossas lembranças...


Um dia a paixão disse para amizade:Eu incendeio corações,desperto sentimentos,proponho juras eternas.
E tu,amizades.Pra que serves???
E a amizade ,responde :Consolo aqueles que tu fazes sofrer !

JATeixeira

segunda-feira, 19 de março de 2012

PIAU ,o pescador

Piau era o apelido de um cafuzo,dos meus tempos de criança ,na Aurora da minha vida.Homem de baixa estatura ,cabelos pretos e lisos,tez escura semelhante aos habitantes de Bangladesh.Era sobretudo calmo,tranquilo,sereno.Ele parecia uma dessas figuras que vemos banhando-se no Ganges ou em posição de Yoga,:Quedam-se imóveis e contemplativos, esperando o tempo passar...Assim, como contemplativo, ele permanecia por horas esperando por um peixe, para fisgar no anzol.
Piau parecia não ter nervos;nada o incomodava ou contribuía para modificar o seu linguajar, na altura ou frequência da voz ou nos trejeitos que o acompanhava.Fala mansa e linear.Jamais alterava o ritmo do que dizia ou o passo de como andava.Quem sabe isso se devia ao fato que ele só se alimentava de peixes? E o peixe deixam nos seus comensais um estado de placidez e tranquilidade,quase nirvana? Não sabemos porque,mas parece que a carne nos deixa mais agitados.É como se a coragem estivesse atrelada diretamente a proteína ali existente..Era como aquelas histórias infantis.A alma e a coragem do guerreiro abatido pelo inimigo é incorporado pelo o outro que o abateu,como os guerreiros do clans nos highlander:Quando um guerreiro decepava a cabeça do outro, a energia fluía da vítima e se incorporava ao vencedor.Quando éramos criança havia lenda semelhante entre os caçadores.Quando abatêssemos uma colibri,tínhamos que abri-la e engolir seu coração ainda pulsando,só assim teríamos a melhor mira do mundo...

Mas voltando ao Piau, desde que o conhecemos ele trabalhava para o Sr Romão Sabiá onde tinham um engenho de cana de açúcar e uma grande represa de água ,onde costumávamos tomar banho.A sua patroa D.(Henriqueta ?) cuja ,era conhecida como “Dona Heriquitinha”,:-”ela então dizia:”-Vá Piau,vê se pegas algum peixe pra vender.”
Piau munia-se de uma tarrafa e depois de alguns lances,trazia alguns peixinhos pra casa e ela dizia:”-Vá,Piau,vê se consegues vender esses peixes na cidade.Peça cinco mil reis”
Piau pegava os peixinhos e ia pra cidade,que ficava a uns 4km dali e oferecia a um que passava, a outro que conversava, os pequenos peixes.Dado a sua humildade ou um certo grau de deficiência cognitiva,ele sempre repetia mesma coisa.:”-A patroa disse que era cinco mil reis,eu não posso vender por outro preço.Assim ela disse..Eles,os pretensos compradores ofereciam mais ,as vezes o dobro,mas ele era irredutível.” Não,a patroa disse:-" cinco mil reis.Nem mais nem menos”Parecia não entender além disso.
Mas,Piau,quanto tu queres pelos peixes ? E se eu te pagar 10 mil por eles,tu me vendes,é o dobro do que tu queres???
“-Não,não posso contrariar a minha patroa.Cinco mil réis,ela disse..Ela disse que é cinco mil réis .E eu só vendo por cinco mil réis,esse é um Piau das três pintas.
Mas, que Piau é esse? Ah! O Sr não conhece ? é o Piau verdadeiro ele tem três pintas,veja aqui..E elevava a”enfiada” :Um cipó que terminava em forma de gancho, onde estavam os peixes.Ele exibia e repetia insistente :-“É cinco mil réis!”
Achamos que ele não conhecia outra cédula ,se não aquela de cinco mil réis,que na realidade já não era réis e sim cruzeiro.

* Piau verdadeiro,é o nome vulgar de um peixe ,cujo nome correto é : Leporinus elongatus

terça-feira, 13 de março de 2012

Viagem à Guiana Francesa

Esperando a carona que não vem.
Na adolescência tívemos um amigo que estudava na Aliança Francesa,Silton Gomes, enquanto nós,eramos simples aluno de Colégio Estadual,mas tivemos a sorte de ter tido uma excelente professora Mme.Sobreira, Silmia . À noite costumávamos sentar em dos bancos da praça da Sé e trocar idéias sobre os mais variados assuntos e as vezes falávamos algumas coisas em francês,para manter vivo o fogo da marseillaise dentro de nós.Em uma ocasião, em meio a uma animada conversa ,imaginávamos a idéia de viajar a Guiana Francesa via carona e a pé, quando necessário ou via transporte pago, quando não sobrasse outra alternativa.
Não chegamos a elaborar um plano, projeto ou ao menos um esboço foi uma simples conversa entre tantas, que aquele dia foi sobre aquele tema:viajar de carona.Como ele estudava francês e nós sempre fomos um curioso achamos que aquela seria um oportunidade para viajar,conhecer e ainda ensaiar algumas palavras no que tínhamos estudado.Até Belém seria moleza,o pior viria depois pra ir via marítima até Macapá e dali segui até a Guiana.
Bem,final de noite todos voltam para suas casas e tudo teria ficado por aí se não fosse por uma simples e importante detalhe,ele prendeu a conversa “ipsis litteris”.Passaram se os dias,semanas,meses e em uma determinada ocasião ele afirmava que já tinha vendido alguns dicos de uma coleção de clássicos que tinha,.Ele tinha várias coleções.Coleção disso e daquilo,entre outras coisas que não lembramos, exceto por uma lupa,que acabei comprando e ainda hoje a temos.Ele nos perguntou:Quantos tu já tens? Como assim,lhe perguntei? Sim,pra nossa viagem...Mas que viagem?de que estás falando?”- O que? Não te lembras do nosso acordo pra viajarmos pra Guiana?
Bah! Só não me caiu as tranças porque não as tenho,mas fiquei perplexo .Pois é,como é que vou te dizer.Nós não chegamos a definir nada,elaborar um roteiro foi só uma ,entre as muitas conversas que tivemos.Tu podias ter me dito pra pensar seriamente no assunto e estabelecer datas,roteiro entre outras coisas.
Ele ficou visivelmente desapontado,pra não dizer perturbado com o pouco caso que fizemos sobre a viagem Achando,talvez ,que éramos ou fomos um pessoa sem palavra em não cumprir com o trato.Mas não houve um trato eu lhe dizia.Ele emudeceu,era desconcertante também a minha postura em não saber o que dizer diante de uma situação tão incomoda como aquela...Emudeci! Compredemos então a célebre frase:"- Se as tuas palavras não forem mais eleoquentes do que o silêncio,é melhor calar!"

sábado, 10 de março de 2012

D.Zefinha

A Anti-Cupido existe, ela morava em frente a casa que morávamos, onde tinha um “instituto de beleza” na linguagem da época.Hoje, temos coleções de nomes variados para designar a mesmíssima coisa
Como o tupiniquim gosta de neologismo. Aqui no meu lado tem um tal de “coiffeur” e na cidade pulula uma variedade de nomes para cabeleireiro:hair gold,hair design,beauty hair, entre outros tantos hair, num anglicanismo global,saliente e dominador.

E’ curioso, que embora seja uma região oriunda de colonização alemã e italiana não tem um único nome que traduza esse espírito germânico ou italiano, nessas línguas de origem,embora o modismo seja esse para padaria Herr Brot,ou restaurante Deutsch Ecke, ou casa do tricot como Stricken haus,etc E para as Pizzarias D.Peppone,Napolitana,etc.
Instituto de Beleza da D.Zefinha
Mas,voltando a dona Zefinha,ela morava em uma casa geminada onde tinha o seu “Salão de Beleza” feminino,porque naquela época os homens ainda não frequentava tais “Institutos” como hoje ,numa estranha obsessão tricotilomaníaca das sessões de depilação semelhantes aos famosos “castrati” ,só que não cantam com sua vozes de corvo,só grasnam.Mas existem os que gostam dessas aves “alanpoeanas”...
Le tre Grazie della Vedova
*Ciccia era la più grassota.Gnomina,avevva la faccia propia de un Gnomo.E Bella ,la più vecchia.


Ali na vizinhança tinha uma “vedova” com três filhas: “as três graças” Todas as cidades têm suas “Graças” e “Desgraças”também. Pois bem,duas delas:Ciccia e Bella, costumavam,alternadamente, usar a soleira da porta do Instituto da D.Zefinha com alcova de encontro noturno,onde namoravam nuns amassos avançados e a D.Zefinha ficava possessa com as atitudes libidinosas, para época,dessas jovens .E já que Vedova,mãe delas, nada fazia ,ela resolveu agir de outra maneira,pois viu que as suas admoestações não surtiram nenhum efeito .Uma ocasião eles estavam namorando ali e a ela voltava da “Novena” ,não disse nada, em absoluto,foi até gentil e cumprimentou com um sonoro boa noite, cheio de mal intenções .
Ela entrou ferveu um grande caldeirão de água e despejou por baixo da porta.Foi um susto e tanto.Demos uma boas risadas com o susto dos dois,além do berro de dor ,do calor da água quente.Pensávamos que eles não voltariam tão cedo a sentar-se ali e a dona Zefinha com aquele seu sorriso sardônico e maroto preparava um surpresa maior para essa próxima vez.
Eles ainda teimaram ,e ela elaborou com refinamento um processo para desestimular esses jovens namorados de usar a sua soleira de uma vez por todas....Nem vou dizer de que era o conteúdo dos dois baldes,ficam por conta da imaginação dos leitores.Mas,eles jamais voltaram a sentar-se ali ... e acho que a última vez devem ter sido necessário ficar de molho,por alguns dias para retirar o odor de metano e amônia ... Do caldo coprológico que poluiu todo o ar da vizinhança...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Infância III

...De fato essa história do “fogo-fátuo”,nunca foi esclarecida,mas por muito tempo,todos nós, evitamos brincar por ali e jamais,mas jamais mesmo ,voltamos a esfregar folhas verdes,giz ou carvão,deixando marcas em códigos para os “kids” do grupo ou até mesmo aquele displicentemente dedilhar nas suas paredes...Pelo sim e pelo não,como diz os castelhanos :” Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay ....”

Assim , parece que mesmo crescendo e nos recusando a crer nessas tolices, ou ao menos transparecer isto, ainda os víamos nos balanços das praças.São os fantasmas que imitam o vento, nos seus assobios e uivos nas madrugadas frias e essa emissão de sons, em frequência tão baixa que se tornam imperceptíveis aos ouvidos dos adultos, somente as crianças e os animais ainda os ouvem .É por isso, que muitas vezes vemos gatos e cães inquietos como se vissem ou ouvissem alguma coisa e os adultos os tranquilizam.”Ah!.fica quieto! Não é nada”.Mas eles sabem o que ouvem, vindo muitas vezes se enroscar nos nossos pés,assustados.Assim como nós fazíamos,quando criança,nos aconchegávamos mais nos braços protetores do pai.
Fantasmas... Uma vez que eles surgem, parece que não nos abandonam mais; eles estão sempre em alguma gaveta,armário ou compartimento pequeno,estreito apertado, do seu próprio tamanho esperando o momento certo para nos fazer companhia,de repente alguma coisa sem mais nem menos, ou sem nenhum vento, os sinos de bambus se agitam parecendo dizer:Ei ! lembre-se de mim,estou aqui!.Quantos fantasmas carregamos nós?Até parece publicidade de desodorante,sempre cabe mais um quando se usa...
Ah!São tantos, que nos acostumamos a eles, e mantemos muitas vezes colóquios amigáveis e as lembranças são despertadas à proporção que nossas conversas se prolongam.

Na nossa infância ,nos dias de lua cheia,o que o mestre Catulo dizia dela,não era exagero, era real.A lua era tão enorme,descomunal; só quem viu o luar do sertão, quando criança,pode ter idéia do que é isto.A cidade apagou o firmamento. Ou o levou para o planetarium:lugar insensível e de um cientificismo frio e cruel,pois não dá pra conversar com as estrelas ou fazer um pedido as “cadentes”,sem parecer louco.
Ali,ao lado da casa tinha um galpão,onde nos reuníamos e acendia-se uma pequena fogueira que crepitava galhos verdes ,soltando “estrelinhas”e com esse galhos “vivos” e fumegantes,nós fazíamos círculo no ar,tentando formar desenhos,nomes ,amores ou simplesmente ameaçar uns aos outros,provocando corridas e risos . Enquanto os mais velhos faziam pequenos trabalhos artesanais: tranças em couro,cabeçadas,arreios. Eles contavam histórias que nos enchiam de pavor,mas sempre pedíamos mais outra...Nunca esquecemos da história do homem da “calça de mescla azul”.Ele morava por ali, em alguma das muitas casas daquele rincão desolado e distante da cidade ,onde a luz artificial era um candeeiro de “pedras de acetileno” que acrescentava-se água ,formando um gás que dava uma luz azulada e com um cheiro, muito forte, de cebola podre.Eles usavam,também, essas “pedras da luz” para colocar juntos as bananas recém colhidas e acelerar sua maturação.
Nos dias de lua cheia, o homem da “calça de mescla azul” ia namorar do outro lado do rio.A sua namorada era pálida,cabelos longos ,pretos e ondulados que emitia reflexos aos primeiros raios do luar. Ela parecia temer a luz do dia ,só a víamos ao entardecer,nos derradeiros raios de sol que ela saía para recolher alguma erva pra chá.O único animal que ela tinha,era um cão preto de cabeça grande e arredondada ,com pequenas orelhas pontudas.Era um lugar funesto,desolador e que metia muito medo.Durante o dia passávamos por ali pra ir pra escola,mas sempre acelerávamos o passo,não tanto por medo do cão e sim e muito mais daquela “rapunzel”,que nos “espiava” pela fresta da cortina.Nós dizíamos, uns pros outros, que ela era uma das noivas daquele de nome “ impronunciável”;e qual João e Maria ,se ela nos pegasse, devoraria nosso fígado.
Os velhos sempre contavam as histórias dos “Papa-Figo”,que roubavam as crianças e lhes arrancavam o fígado e isso nos enchia de pavor.”-Cuidem:O borrascoso ta comendo a luna!”,diziam.

Antes da meia noite tínhamos que estar na cama; e mesmo com a cabeça coberta e ouvidos fechados, ainda ouvíamos estranhos ruídos e estalos que pareciam açoites no ar; eles diziam que eram as corujas”rasga-mortalha” procurando crianças despertas.
A Esquisita era de um “cor etérea e seu velho cão ,uivava uma canção funérea tão triste com a tristeza oceânica do mar”Pensávamos nesses versos e nos enchíamos mais de pavor.
O seu namorado ia uma vez por mês a sua casa,sempre no plenilúnio ,nós acreditávamos que ele tinha um pacto satânico ou um segredo guardado para ser o namorado da “esquisita”.A sua “calça de mescla azul” fazia um estranho ruído tsiiiiiii tsiiiiiiiiii tsiiiiiii tsiiiiiiiiii.,quando roçavam uma perna contra a outra, era um cicio curioso e assustador.Quando ele parava fazia-se um silêncio absoluto,sepulcral,temível.Quem será ou o que será que ele tinha pego pra levar pra sua amada.Ele sempre passava com um saco grosso de estopa nas costas,o que será que ele carregava? Ele sempre nos deixava assustados. Ainda hoje podemos ver aquelas enormes orelhas e nariz adunco,em meio aqueles dois olhos pequenos e faiscantes.Tínhamos medo de olhar para os seus olhos.Os velhos diziam que ele,como as cobras,hipnotizava as sua vítimas e as levava naquele saco.Eles diziam também que devíamos fechar os ouvidos pois ele murmurava encantamentos em uma lingua estranha e antiga,a lingua dos bruxos,que nos seduziríamos, como as sereias fazia para os nautas.Eles Assumiam várias formas e se soprasse nas nossas narinas um inebriante,podia dominar e escravizar até a terceira geração,eles diziam:-"Pelos nossos avós,pagamos nós!"
Acreditamos que os velhos contadores de “estórias”fazem muita falta,entre uma história e outra eles nos ensinavam a fazer tranças ou esculpir madeira ou qualquer um outro trabalho manual que praticavam ,além dos segredos embutidos nas entrelinhas desses contos.Eram semelhantes aos fabulistas .Crescemos com a imaginação fértil alicerçadas nessas histórias que sempre acabam bem ,pois eles tinham a chave com abriam e fechavam todas as portas que povoavam de seres corajosos ,que se invocados ,viriam em auxílio dos indefesos.Além de nos ensinar a pensar de como sair de situações embaraçosas.Acreditamos que os contos ultrapassam a racionalidade com os seus mitos e alegorias contribuindo para fortalecimento do caráter e sempre favorece escolha certa onde quem escolhe errado ou desobedece sempre se dar mal.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Fantasmas da Infância II

Quando éramos crianças sempre tínhamos medo das casas funerárias e aquelas suas vitrines fúnebres,pareciam um convite de Caronte para cruzar o rio Hades.Acreditávamos que cada rua que andávamos, nossos olhos procuravam uma casa funerária e mudávamos de calçada e de itinerário, passávamos a andar por outra rua. “La paura” do cemitério,não era tanto do cemitério em si mesmo,das suas construções,seus jazigos, túmulos, da sua aridez.Era um medo daquele silêncio e da cumplicidade dos adultos sobre o assunto. E do que ele despertava em nosso íntimo:um pavor,que é maior do que o medo, é aquela paralisia que nos queda descontrolado ou estático .Sentimos aquele suor, que parece percorrer desde os pés, que suam frio, até os cabelo que eriçam,sem falar do sangue gelado que foge ,não sei pra onde,parece que se limita a manter só as funções vitais,antes do desmaio.Um sentimento desolador, mesmo estando numa multidão,nos invade,pois estando juntos de outros,esse sentimento de solidão se apossava igualmente da nossa respiração,pulsação e nos deixava com aquela sensação que alguém nos espreitava e soprava um hálito enxofrado nas nossas narinas.Não tão somente essas sensações ali nos terrificavam, mas também tínhamos as sensação de que os fantasmas do cemitério nos acompanhavam sempre:no adro das igrejas,nas praças desertas,fazendo com que o passo acelerasse ,o coração entrasse em arritmia e o fôlego nos faltasse.Quando estávamos quase cianóticos nos vêm uma necessidade imperiosa de correr,mas em que direção?Parece que qualquer direção que escolhêssemos seria a errada.

Ali, em um dos lados da praça, tinha também algo de assustador:a casa do Padre,com aqueles seus muros altos, pareciam para nós infantes” fortalezas inexpugnáveis e aquelas suas bouganvilias pálidas nos assustavam,pareciam ter a candura dos natimortos.Ali sempre tinha algum “pipistrello” saindo das aberturas do forro ,que emitia sons agudos e parecia nos seguir...
Naquela casa parecia habitar todas as almas conjuradas pelas suas rezas,novenas e orações que exorcizavam os seus mortos naquelas “ladainhas” sem músicas desses seus réquiens fúnebres,Sentíamos que ali pairava uma sensação de culpa, no ar morno que saia pelos respiradouros do porão.Sempre nos assustava aquela mulher de vestido azul, comprido e desalinhado .Ela tinha um grande cocq que prendia aqueles poucos cabelos acinzentados.O seu olhar escondia um profundo desgosto e parecia querer culpar todas as crianças por esse infortúnio,e qual seria esse?Ser a mulher do padre?ou era um desgosto maior ,que os adultos sussurravam sobre ela. Sobres os natimortos.Foram tantos assim,como as flores pálidas da sua varanda?Jamais saberemos
Para contribuir para esse terror infantil que “ancora stringe il core”, em uma determinada ocasião, eram 21:00 horas,hora fatídica em que o motor da prefeitura interrompia o fornecimento de eletricidade que iluminava, com aquelas pequeninas tochas(muito mal), a cidade,pois até esse horário ainda corríamos na praça, para em seguida ir pra casa.Aquela noite,não seria uma noite qualquer.Além de ser um escuro absoluto, um dos amigos do grupo, L.Valdevino,teve uma experiência trágica.Ele deslizava os dedos nos muros da casa do padre,quando de repente um “fogo-fátuo”.segundo ele eram várias esferas de fogos :demoníaco e assustador começa a persegui-lo. Ele corre e quanto mais corre, mais ele sente aquele hálito forte na sua nuca, aquela chama viva o segue, e quando ela está pra alcançá-lo, ele tropeça e cai ,mas sente que aquele fogo que o perseguia,passar ainda chamuscando os seus cabelos...”Eu ,hein,não passo mais ali...!”