quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A Lambretta

O meu primeiro passeio de Lambretta não foi como “o último passeio de um turbeculoso pelas ruas da cidade a pé” do livro perdido,mas foi uma situação apreensiva , não única nem última.
O meu amigo Agostinho pediu emprestado a Lambretta do seu irmão Afonso e fomos dar uma volta.Ele resolveu namorar e me entregou a Lambretta e convidei o meu amigo Petrola para um pequeno “tur”.Até aí tudo bem,dar uma volta de Lambretta não tinha muitas implicações se não fosse por alguns detalhes:eu era menor e em consequência disso não tinha habilitação e também não tinha, ainda, guiado uma Lambretta .Mas sempre fui muito metido e por sorte o nosso passeio não vira uma tragédia, não por excesso de velocidade e sim por falta de habilidade ,pois como disse era a primeira vez;mas como dizem que tem uma primeira vez para tudo, me arrisquei ao conduzir aquele veículo sem saber como “domá-la”.Montamos aquela vermelhinha,ainda não eram os “lambretões” com quatro marchas.Aquela era menor com três marchas e abaixo do apoio dos pés tinha uma campainha, com rosca sem fim, que apertávamos e ela emitia um som de campanhinha ,como das bicicletas.Era divertido.Já havia nos distanciado bastante do centro e procurávamos uma rua mais larga que pudéssemos fazer a volta sem fazer feio nem “desapear”,mas estava difícil e mais e mais nos afastávamos do centro.De repente apareceu providencialmente uma praça:-“eu pensei aqui vai ser moleza!”De fato,a rua em que íamos era uma avenida larga mas as transversais era sempre ruas estreitas,mal iluminadas e com carros estacionados,as tornando mais estreitas ainda.Contornamos a parte superior da praça que tinha um descida para a rua paralela, além do que a rua era bem mais estreita do que avenida em que vínhamos.Então, ali estávamos, eu disse pro Petrola :-“ Acho que vai dar!” Na calçada haviam pessoas sentadas, como era do habitual antigo .Mas, infelizmente, a imperícia,imprudência ou “barberice” nos arrojou “ contra aqueles que estavam ali sentados,para sorte nossa não atingimos a nenhum ;mas a “quase” tragédia, faltou pouco para ser agravada,por um novo elemento.Um senhor,já grisalho,talvez um septuagenário,presumo,com dedo riste em nossos rostos:unhas sujas , pontiagudas e com cheiro de enxofre mesclado a “marvada”, parecia a figura grotesca do “Mefístofles,porco demo!”(imagino,pois nuca o vi e espero não ter esse desprazer).Só faltava claudicar e ter chifres para que saíssemos dali em disparada ...Che fà la paura...
Ele agitava os braços,bramia,rugia :era uma figura patética.Parecia Gulliver dos contos de JSwift,ameaçando a dois pequeninos. E nós,ali,impotentes diante daquela figura grotesca que parecia uma caricatura talhada a facão e sem nenhum esmero no acabamento.Barba hirsuta,desalinhada entre tons de cinza e negro sem falar daqueles dentes com um diastema tão acentuado que lhe conferia um misto de ar patético e assustador ,qual ogro dos contos de fadas.”Mein Gott , ach du liebe Zeit! “.
E nós nos desculpávamos e ele rugia encolerizado e a família como nós ali ,inertes diante daquela “stupidosauro” que nos ameaçava com a morte .Mas,qual balão ele foi esvaziando ... e ficou calmo,nos deixando ir...para nossa perplexidade .

Voltando a Lambretta,pensávamos nos danos ,mas dado a velocidade que íamos nada lhe ocorreu a não aquele “strupício satânico” que nos deixou ,ainda por muito tempo,sem vontade de fazer nenhum passeio de Lambretta
Até parece que estávamos sendo preparado para o passeio de Jeep.
O velho Petrola tinha um Jepp 1954 e o Petrola(novo) me convidou pra dar uns “piques” de Jeep na mesma e malfadada cidade vizinha.Ocorre que eu continuava menor e sem habilitação,naturalmente, e daí...
Continua outro dia.

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