sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Senza Fine
As nossas lembranças,como se fizessem parte de um grande propósito, sempre evocam outras, que por sua vez também são evocadas entrando num círculo, sem começo ,sem fim, mas apenas lembranças, que às vezes são “acordadas” e nem sabemos mesmo como vieram parar ali.
De repente, num silêncio qualquer,cai algumas gotículas presas nos gerânios da janela ou do beiral do telhado,um som de flauta distante trazido pelo vento.
Ou quando as pequenas formigas “borsaiolas”, que inexoráveis, vão arrastando tudo que vêem pelo caminho,como aquela baratinha que não deixava tão ilustre construtor ocupar a sua morada e num desespero de um vencido, onde amigos poderosos fogem de tal ruído, ele é salvo por essas minúsculas criaturinhas que arrastam para o seu ninho tal intruso seresteiro.
O curioso na magia da poesia não é unicamente a leitura em que nós mergulhamos prazerosamente, mas o fato de lentamente repetirmos baixinho ,para nós mesmos,palavra por palavra evocando o gesto da pena, que desliza no papel, num ritual de quem imprime ali, não unicamente lembranças,idéias e pensamentos mas a si mesmo, como se desdobrasse fibra por fibra ,como numa dissecação anatômica, onde são expostos as artérias que irrigam a memória,onde se expõe a inervação que conduz esses impulsos elétricos que numa mensagem,a nós imperceptível, de dendrito à dendrito deposita no papel o que o pensamento elaborou .Ali, a própria vida se dilui e preenche silentemente o que não ousamos dizer e que a singularidade do momento de quem ler, caberá extrair o que não foi dito, mas que ali se encontra preso como no silogismo das horas, nos relógios, que marcam o compasso vão da espera, na redundância da esfera do menino que agita os dedinhos querendo o jogo vencer...
E assim como as “Velhas Tintas” usadas para pintar as aquarelas da vida, dos seus respingos sentimos despertar as lembranças adormecidas; a poesia que se encontra presa aos liames invisíveis: entre um sonho e um pesadelo. Sonho que nos causa alegria revivê-los,pesadelos por não poder mantê-los.E a cada manhã ou a cada despertar dessa febril lembrança, ele nos escapa quando juntamos os dedos, tentando segurá-los por mais alguns segundos.
E qual Prometheu acorrentado, no Cáucaso da vida,vemos nossas vísceras “poéticas”serem dilaceradas pelo abutre das horas,num interminável círculo e embora Mnemosine nos favoreça nessas nossas memórias que Lethes não conseguiu corromper, sofremos eternamente a agruras intermináveis das “Velhas Tintas” que ali não se desbotam nem se corrompem ,mas se fundem com as lágrimas furtivas que caem e as borram num espetáculo de nostalgia e devaneio, para se refazerem para uma próxima dança magistral de magia e lembranças .
JATeixeira
De repente, num silêncio qualquer,cai algumas gotículas presas nos gerânios da janela ou do beiral do telhado,um som de flauta distante trazido pelo vento.
Ou quando as pequenas formigas “borsaiolas”, que inexoráveis, vão arrastando tudo que vêem pelo caminho,como aquela baratinha que não deixava tão ilustre construtor ocupar a sua morada e num desespero de um vencido, onde amigos poderosos fogem de tal ruído, ele é salvo por essas minúsculas criaturinhas que arrastam para o seu ninho tal intruso seresteiro.
O curioso na magia da poesia não é unicamente a leitura em que nós mergulhamos prazerosamente, mas o fato de lentamente repetirmos baixinho ,para nós mesmos,palavra por palavra evocando o gesto da pena, que desliza no papel, num ritual de quem imprime ali, não unicamente lembranças,idéias e pensamentos mas a si mesmo, como se desdobrasse fibra por fibra ,como numa dissecação anatômica, onde são expostos as artérias que irrigam a memória,onde se expõe a inervação que conduz esses impulsos elétricos que numa mensagem,a nós imperceptível, de dendrito à dendrito deposita no papel o que o pensamento elaborou .Ali, a própria vida se dilui e preenche silentemente o que não ousamos dizer e que a singularidade do momento de quem ler, caberá extrair o que não foi dito, mas que ali se encontra preso como no silogismo das horas, nos relógios, que marcam o compasso vão da espera, na redundância da esfera do menino que agita os dedinhos querendo o jogo vencer...
E assim como as “Velhas Tintas” usadas para pintar as aquarelas da vida, dos seus respingos sentimos despertar as lembranças adormecidas; a poesia que se encontra presa aos liames invisíveis: entre um sonho e um pesadelo. Sonho que nos causa alegria revivê-los,pesadelos por não poder mantê-los.E a cada manhã ou a cada despertar dessa febril lembrança, ele nos escapa quando juntamos os dedos, tentando segurá-los por mais alguns segundos.
E qual Prometheu acorrentado, no Cáucaso da vida,vemos nossas vísceras “poéticas”serem dilaceradas pelo abutre das horas,num interminável círculo e embora Mnemosine nos favoreça nessas nossas memórias que Lethes não conseguiu corromper, sofremos eternamente a agruras intermináveis das “Velhas Tintas” que ali não se desbotam nem se corrompem ,mas se fundem com as lágrimas furtivas que caem e as borram num espetáculo de nostalgia e devaneio, para se refazerem para uma próxima dança magistral de magia e lembranças .
JATeixeira
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