sexta-feira, 5 de outubro de 2012
O Poder do Direito
Um dia desses em conversa com Herr Helmuth, um homem simples,sotaque carrrrregado, de poucas letras,caligrafia ruim mas de cérebro privilegiado e clarividente,não turvado pelos acontecimentos do momento,pelas esmolas que deformam o caráter :homem de muitas lides.Afirmava,sem conhecer, o que essa russa diz.Ele tem uma pequena horta onde produz repolho que usa para fazer sauerkraut, alface,pepino,machucho. Tem algumas galinhas que produzem ovos saudáveis,sem os hormônios dos ovos das granjas,alguns marreco-mula(hibridos do pato com o marreco) e gansos.Restaram-lhe apenas duas vaquinhas Jersey que dá leite,queijo,nata.Tem também um pequeno pomar onde tem um grande pé de Mispel de cujo ele faz um excelente licor,com as sementes, a quem ele chama de Mispelschnaps(que também não pode vender)E da polpa ele faz um saboroso mus.Ele nos dizia,entristecido, que não pode vender o leite só para o atravessador que querem pagar 0,32 (centavos)para justificar a tal de pasteurização. Os ovos também não,só a granja pode vendê-los.Nem o porco querem deixar que ele mate para o próprio consumo,ele diz que o prato que ele mais aprecia é carne de porco que ele se expressa assim:fleisch-eisbein-mit-sauerkraut-und-salzkartoffeln ,que é carne porco (joelho) com repolho fermentado e batata.Ele diz:nós gostamos de comer o que produzimos, pois nós sabemos o que estamos consumido.
Ele nos dizia :-como eles podem nos proibir de vender uma coisa que produzimos honestamente e querem que eu pare e passe a viver de uma aposentadoria ridícula,que mal paga os remédios que precisamos?A noite ele tece cadeiras de taboa ou cesto de cipó ou ainda faz vassouras de cipó, mas não pode mais fazê-las,proibiram de tirar os cipós da mata.Se forem pegos ,poderão até ser presos.É um tal de crime contra a natureza.E eu lhe pergunto,por acaso também não somos parte da natureza? Ou a natureza é restrita as plantas e animais.
Outro dia,veio aqui, uma tal de Anvisa,que dizia ser lei federal.Mas é uma lei que tem pesos diferentes pois vejo pela TV que em outros estados, principalmente do Nordeste,que eles vendem nas feiras,livremente. Nem precisamos ir tão longe daqui da "neue heimat",fomos a Lages e vimos na estrada as barraquinhas vendendo queijo,salame,etc.Eles é que estão certos.Não podemos cortar uma árvore sem sofrer ameaças e até multas e interdição.Parece até Stalin,que lá na Ucrânia,que matou 13 milhões de ucraínos de fome, numa terra que é um dos maiores celeiros de trigo do mundo.Eles foram minando as suas resistências dia à dia e os matando de fome.Se eles soubessem que ,de fato ,iam morrer eles teriam morrido lutando.Aqui também,dizia ele,querem nos limitar dia a dia as nossas ações.Primeiramente,eles nos tiraram as armas,e agora eles nos querem tirar o direito de viver com queremos ,dentro das nossas próprias casas,terras.
Como pode alguém que não tem terras, animais ou produzir alguma coisa vir nos dizer como ou o que podemos produzir.Precisaremos pedir autorização daqui apouco ,até para ir no banheiro.
A nossa terra,já não é nossa.Nossos avós compraram essas terras e agora para cortar uma árvore precisamos de uma autorização,mas é só pagar uma taxa que poderemos cortar,que já não é proibido.Animais silvestres também,é só pagar uma taxa que podem ser comercializados,vendidos,abatidos.Os nossos netos há muito foram trabalhar nas fábricas e já não voltarão mais para casa.Para plantar e continuar o que fazemos por gerações,produzindo alimentos.Vamos terminar os nossos dias unicamente cuidando dessas terras pro governo,pois não podemos plantar porque não podemos cortar.Não podemos criar porque não podemos vender o leite ou um queijo ou matar um porco para ter uma banha para fazer o nosso pão de cada dia... -
Ele faleceu aos 82 anos teve muitas atividades.Desde aprendiz de sapateiro ate´bandonionista.A saga continua...se não nos seus próprios filhos, certamente em outros que também não se curvarão jamais diante da falta de direito ou do “cruel poder da exceção”,mas com diz Jaime CBraun:"só depois de morto alguém há de dobrar-me a espinha... "
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