quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Joguetes da Infância

Carrossel(Galamarte)
Quando éramos criança,próximo de casa tínhamos o estábulo do gado, e ali bem no meio do cercado tínhamos um moirão, que era uma estaca forte e bem firme que servia para entroncar o gado: marcar ou aplicar vacinas,entre outras atividades na lida do campo. Era um tronco firme e liso de tanta corda ter passado por ali. Ele tinha a extremidade afilada como um lápis,Meu pai dizia que as estacas deviam ser assim, para evitar que retivessem água da chuva e apodrecessem . A porteira tinha grossos paus,cilíndricos com encaixes em um dos lados, que eram usados para manter o gado estabulado e tinha que ser forte o suficiente para evitar que escapassem.De um lado era suportada por aberturas também cilíndricas de diâmetro maior ,para que deslizasse bem,no lado oposto onde eram presos devia ser de encaixe pra não deslizar,ficar bem firme,pois muitos animais são manhosos e cheios de artimanhas,pra escapar.Ele forçam com as guampas até conseguirem abrir a porteira e acabam fugindo. A maioria eram zebuínos,animais pouco dóceis ou irrequietos .
Tirávamos um dos paus da porteira,o último era o mais grosso e já tinha uma concavidade preparada para se apoiar no moirão.Colocávamos,essa travessa bem centrado sobre aquela estaca,nos púnhamos um de cada lado,em equilíbrio, a girar sobre o seu próprio eixo e depois nos apoiávamos sobre ele e continuava a girar sozinho,como um carrossel até ficarmos tontos e muitas vezes cair pros lados. A única coisa que faltava para ser uma carrossel de verdade com aqueles dos filmes,era música de acordeom.Como ninguém sabia tocar e nem tinha acordeom, improvisamos com pequena harmônica de boca ,que dava no mesmo.Nos divertíamos bastante naquele carrossel rústico e simples com um mero uso de duas alavancas,como diria Arquimedes.
Nós tínhamos também um outro tipo de carrossel em que um adulto colocava os braços 90º e uma criança ficava suspensa , em cada lado em braços opostos, formava um equilíbrio com ele e então ele fazia a vez do poste e girava até ficarmos em na horizontal .Simples e ingênuo como as crianças da época.
Um dia desses ,o meu amigo Bonin e seu compadre Koepsel estiveram lá em casa.Temos três filhos.O mais velho com ajuda do pequeno colocaram uma estaca sobre uma bifurcação da “cássia fistula” do jardim e fizeram uma gangorra,e com eles se divertiram,com a construção de uma coisa tão rústica e simples de fazer.Semelhante ao nosso velho “Galamarte”da infância .
O Bonin se dizia “indignado” com os gastos que tínhamos feito para aquela construção, mostrava pro Koepsel e davam risadas...:”- Tu vês compadre,ele podendo comprar um brinquedo pros filhos,faz uma gangorra dessas... Não...Não .Não!Onde já se viu??”
Nós estávamos contentes com a engenhosidade, que eles usando da própria criatividade viram uma função para aquele velho troco,ali jogado...
Mas,voltando ao nosso carrossel,depois de tanto suar corríamos pro açude ,ali do lado,não mais do que 50 metros e fazíamos umas boas cambalhotas.Outras vezes construíamos balsas a partir de troncos de bananeira:com seis troncos e três estacas tínhamos uma balsa pronta pra cruzar o Nilo e explorar as redondezas .Mas,a maioria das vezes íamos até o meio do açude ,que era a parte mais profunda, e ali ensaiávamos os nossos saltos e mergulhos até a margem:um grupo ia para um lado,e outro para o outro,apostávamos que chegávamos mais rápido.Era trezentos metros da balsa até a margem.Haja fôlego!


Às vezes pescávamos e ali mesmo os peixes eram eviscerados e ia pro fogo.Nós tínhamos uma turbina manual,movida a manivela ,usada pelos ferreiros para avivar o fogo , nos trabalhos de ferraria .Ela estava sobre rodinhas e era transportada até a margem do açude e em poucos minutos tínhamos peixes assados nas brasas,que maravilha !

Não sabemos se éramos mais criativos do que as crianças de hoje,Achamos que a criatividade atual é diversa daquela que nós vivemos,que foi diferente das vividas por nossos pais,embora cada vez que vamos pra trás, as mudanças parecem serem menores ou serem marcadas por elementos novos .Talvez em condições semelhantes,as crianças de hoje repitam igualmente o que foi feita por tantas gerações passadas.A nossa criatividade se devia ,principalmente,ao fato de não ter nada pronto para tal fim e nós tínhamos que improvisar,construir nossos próprios brinquedos.Tudo indica que aí está o umbigo do mundo,a essência e mérito de tudo.Atualmente, encontra-se tudo pronto, as crianças não se dão ao trabalho de pensar para criar e aprender criando.Martelar alguns dedos,perder algumas unhas mas deixar um carrinho pronto e ter a alegria de se lembrar com o montou o sistema de molejo ,com velhas hastes de guarda-chuva.Não é unicamente sabor de nostalgia e o poder da criação diluído em cada centímetro de massa cinzenta que nos prepara pra equacionar os problemas que certamente todos,indistintamente,teremos que enfrentar.
JATeixeira


Vimos hoje esses peões de pedreiro desenvolver atividade semelhante com uma betoneira

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