segunda-feira, 5 de março de 2012

Fantasmas da Infância II

Quando éramos crianças sempre tínhamos medo das casas funerárias e aquelas suas vitrines fúnebres,pareciam um convite de Caronte para cruzar o rio Hades.Acreditávamos que cada rua que andávamos, nossos olhos procuravam uma casa funerária e mudávamos de calçada e de itinerário, passávamos a andar por outra rua. “La paura” do cemitério,não era tanto do cemitério em si mesmo,das suas construções,seus jazigos, túmulos, da sua aridez.Era um medo daquele silêncio e da cumplicidade dos adultos sobre o assunto. E do que ele despertava em nosso íntimo:um pavor,que é maior do que o medo, é aquela paralisia que nos queda descontrolado ou estático .Sentimos aquele suor, que parece percorrer desde os pés, que suam frio, até os cabelo que eriçam,sem falar do sangue gelado que foge ,não sei pra onde,parece que se limita a manter só as funções vitais,antes do desmaio.Um sentimento desolador, mesmo estando numa multidão,nos invade,pois estando juntos de outros,esse sentimento de solidão se apossava igualmente da nossa respiração,pulsação e nos deixava com aquela sensação que alguém nos espreitava e soprava um hálito enxofrado nas nossas narinas.Não tão somente essas sensações ali nos terrificavam, mas também tínhamos as sensação de que os fantasmas do cemitério nos acompanhavam sempre:no adro das igrejas,nas praças desertas,fazendo com que o passo acelerasse ,o coração entrasse em arritmia e o fôlego nos faltasse.Quando estávamos quase cianóticos nos vêm uma necessidade imperiosa de correr,mas em que direção?Parece que qualquer direção que escolhêssemos seria a errada.

Ali, em um dos lados da praça, tinha também algo de assustador:a casa do Padre,com aqueles seus muros altos, pareciam para nós infantes” fortalezas inexpugnáveis e aquelas suas bouganvilias pálidas nos assustavam,pareciam ter a candura dos natimortos.Ali sempre tinha algum “pipistrello” saindo das aberturas do forro ,que emitia sons agudos e parecia nos seguir...
Naquela casa parecia habitar todas as almas conjuradas pelas suas rezas,novenas e orações que exorcizavam os seus mortos naquelas “ladainhas” sem músicas desses seus réquiens fúnebres,Sentíamos que ali pairava uma sensação de culpa, no ar morno que saia pelos respiradouros do porão.Sempre nos assustava aquela mulher de vestido azul, comprido e desalinhado .Ela tinha um grande cocq que prendia aqueles poucos cabelos acinzentados.O seu olhar escondia um profundo desgosto e parecia querer culpar todas as crianças por esse infortúnio,e qual seria esse?Ser a mulher do padre?ou era um desgosto maior ,que os adultos sussurravam sobre ela. Sobres os natimortos.Foram tantos assim,como as flores pálidas da sua varanda?Jamais saberemos
Para contribuir para esse terror infantil que “ancora stringe il core”, em uma determinada ocasião, eram 21:00 horas,hora fatídica em que o motor da prefeitura interrompia o fornecimento de eletricidade que iluminava, com aquelas pequeninas tochas(muito mal), a cidade,pois até esse horário ainda corríamos na praça, para em seguida ir pra casa.Aquela noite,não seria uma noite qualquer.Além de ser um escuro absoluto, um dos amigos do grupo, L.Valdevino,teve uma experiência trágica.Ele deslizava os dedos nos muros da casa do padre,quando de repente um “fogo-fátuo”.segundo ele eram várias esferas de fogos :demoníaco e assustador começa a persegui-lo. Ele corre e quanto mais corre, mais ele sente aquele hálito forte na sua nuca, aquela chama viva o segue, e quando ela está pra alcançá-lo, ele tropeça e cai ,mas sente que aquele fogo que o perseguia,passar ainda chamuscando os seus cabelos...”Eu ,hein,não passo mais ali...!”

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