Nós, não tivemos a crise de Peter-Pan ou da Alice,querendo permanecer para sempre naquele mundo protegido e seguro que vivíamos.Pois esse “mundinho” também tinha seus percalços. Queríamos correr o mundo,ir além das colunas de Hercules e não podíamos nos quedar de braços cruzados esperando que esse passasse por ali.Mas também não imaginávamos das dificuldades de cruzar esse “mar” a nado.
Na adolescência os medos eram outros. Estavam associados aos nossos desejos trancafiados, as nossas vontades mais protegidas, que muitas assim ainda permanecem... Lamentos pelo tempo perdido,da nossa insensatez incontida e que ,ainda, não nos arriscamos revolver as camadas mais profundas, com medo de revelar o “irrevelável” ;nem mesmo sabemos o quê ou o porquê,mas se foram guardados por timidez ou vergonha , que assim permaneça para que não os despertemos e nos persigam, ou não nos perdoem as nossas pequenas tolices e desapontamentos.
Não mais escutávamos as histórias em volta da fogueira,embora fizesse falta, e ainda faz falta.As buscas eram outras,os medos precisavam ser dissipados com a água-ardente,e como ardia e nos causavam mal-estar.Era preciso se exibir, como que desdenhando outros, um cigarrinho, uma praxe de época da auto-afirmação.
Ali na esquina tinha um bar:”O Alagoano”.Nós costumávamos nos sentar nas mesmas cadeiras externas e esperávamos que elas por ali passassem e vissem que já havíamos crescidos e já até fumávamos – (as escondidas,claro!) - coisa que só adulto fazia.Àquela tarde estávamos ali e um único dos amigos tinha começado a fumar.Nós lhe pedimos:-Acende um “cigarrinho”.E ele disse:”_Agora,não .Deixa chegar mais gente!” Pode parecer patético,examinado de hoje.Mas para aqueles adolescentes, que precisavam de acender um cigarro para dizer que já eram homens,era o máximo.Tanto que precisava platéia para ver que já fumavam, tal qual os mitos hollywoodianos,inspiração de muitos.
Na adolescência os fantasmas que nos causavam medos já não eram o”papa-fígados”,da primeira infância, que se escondia nos arbustos, parecia estar debaixo da cama, em cada esquina escura ou sob o manto da invisibilidade,no cicio das aves agoureiras.Nós pressentíamos esse fantasmas em qualquer lugar.Agora,não .O medo era outro.Na adolescência,tínhamos medo do “hálito de rosas” juvenis que não nos deixava dormir e nos arrancava os suspiros profundos.Guardamos na memória o odor que exalava dos seus cabelos.Era um cheiro do flores do campo,nas frescas manhãs de primavera:suave e inebriante.Não era ela unicamente que ruborizava as faces, nós também.As vezes ruborizávamos às faces, em outras empalidecíamos e sentia gelar as pontas dos dedos e faltar “terra nos pés” ou até despertar pensamentos solitários no meio das fantasias noturnas.Mudamos tantas vezes.Tantos lugares novos,tantos rostos inspiradores,mas esses fantasmas apenas se multiplicaram e parecem que conversam entre si ...nos perseguem .Às vezes no meio do nada...um som qualquer,um perfume ou até um sombra na noite pode acordá-los e nos intimar a ver a sequência de lembranças que desfilam...
N a Grécia antiga existiram nove musas e na nossa adolescência,quantas existiram?
Alguém lembra da Lili???.Ah! Lili.Ah! Lili...Até nas aulas de telegrafia ... sempre nos lembrávamos dela na letra “L” cujo manipulador parece dizer:”vem cá LI-LI... Vem cá Li-Li!” .
A Lili e aquele seu vestido de bolinhas.Ela era “birolha”,mas tirava o sono de muito adolescente:sempre sorridente e feliz,com seus vestidos curtos,leves e esvoaçantes.O seu estrabismo era tanto e ,embora a nossa timidez, não nos intimidava em flertá-la,pois sempre achávamos que ela estava distraída ou olhando para o outro lado...
Um dia, o Tião(medonho)o nome dele era outro,talvez ,Chico Tião(?) sei lá já se passaram tantas kermesses desde então, que me escapa esses detalhes.Mas,afinal Chico Tião estava passeando de Rural ali na volta da Praça da Sé e tinha um aléia de altas árvores, separando as duas vias,mas não existia mão ou contra mão era,parece,livre o trânsito.A Lili estudava no colégio Diocesano e estava matando aula, sentada ali na praça.Ela usava um vestido curto , provocante e tinha um cruzar de pernas...Mein Gott! Ach du liebe zeit!
Coitado do Chico Tião, passeando de rural,não tirava os olhos das “pernas” da Lili.Acho que era a quarta ou quinta volta em torno da praça e de repente vem um carro na mesma via e em sentido oposto...detonou a rural do velho.Ah! Tudo por culpa da Lili...Ah essa Lili...Quem sabe hoje esteja irreconhecível,mais magra ou mais gorda,quem sabe ? A não ser pelo os seu olhos vesgos,que devem continuar os mesmos...
Restando o amor,preso a essas memórias,a única coisa que permanece sem ser desgastada pelo deus do tempo, que consome com voracidade os seus filhos...
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