quinta-feira, 8 de março de 2012
Infância III
...De fato essa história do “fogo-fátuo”,nunca foi esclarecida,mas por muito tempo,todos nós, evitamos brincar por ali e jamais,mas jamais mesmo ,voltamos a esfregar folhas verdes,giz ou carvão,deixando marcas em códigos para os “kids” do grupo ou até mesmo aquele displicentemente dedilhar nas suas paredes...Pelo sim e pelo não,como diz os castelhanos :” Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay ....”
Assim , parece que mesmo crescendo e nos recusando a crer nessas tolices, ou ao menos transparecer isto, ainda os víamos nos balanços das praças.São os fantasmas que imitam o vento, nos seus assobios e uivos nas madrugadas frias e essa emissão de sons, em frequência tão baixa que se tornam imperceptíveis aos ouvidos dos adultos, somente as crianças e os animais ainda os ouvem .É por isso, que muitas vezes vemos gatos e cães inquietos como se vissem ou ouvissem alguma coisa e os adultos os tranquilizam.”Ah!.fica quieto! Não é nada”.Mas eles sabem o que ouvem, vindo muitas vezes se enroscar nos nossos pés,assustados.Assim como nós fazíamos,quando criança,nos aconchegávamos mais nos braços protetores do pai.
Fantasmas... Uma vez que eles surgem, parece que não nos abandonam mais; eles estão sempre em alguma gaveta,armário ou compartimento pequeno,estreito apertado, do seu próprio tamanho esperando o momento certo para nos fazer companhia,de repente alguma coisa sem mais nem menos, ou sem nenhum vento, os sinos de bambus se agitam parecendo dizer:Ei ! lembre-se de mim,estou aqui!.Quantos fantasmas carregamos nós?Até parece publicidade de desodorante,sempre cabe mais um quando se usa...
Ah!São tantos, que nos acostumamos a eles, e mantemos muitas vezes colóquios amigáveis e as lembranças são despertadas à proporção que nossas conversas se prolongam.
Na nossa infância ,nos dias de lua cheia,o que o mestre Catulo dizia dela,não era exagero, era real.A lua era tão enorme,descomunal; só quem viu o luar do sertão, quando criança,pode ter idéia do que é isto.A cidade apagou o firmamento. Ou o levou para o planetarium:lugar insensível e de um cientificismo frio e cruel,pois não dá pra conversar com as estrelas ou fazer um pedido as “cadentes”,sem parecer louco.
Ali,ao lado da casa tinha um galpão,onde nos reuníamos e acendia-se uma pequena fogueira que crepitava galhos verdes ,soltando “estrelinhas”e com esse galhos “vivos” e fumegantes,nós fazíamos círculo no ar,tentando formar desenhos,nomes ,amores ou simplesmente ameaçar uns aos outros,provocando corridas e risos . Enquanto os mais velhos faziam pequenos trabalhos artesanais: tranças em couro,cabeçadas,arreios. Eles contavam histórias que nos enchiam de pavor,mas sempre pedíamos mais outra...Nunca esquecemos da história do homem da “calça de mescla azul”.Ele morava por ali, em alguma das muitas casas daquele rincão desolado e distante da cidade ,onde a luz artificial era um candeeiro de “pedras de acetileno” que acrescentava-se água ,formando um gás que dava uma luz azulada e com um cheiro, muito forte, de cebola podre.Eles usavam,também, essas “pedras da luz” para colocar juntos as bananas recém colhidas e acelerar sua maturação.
Nos dias de lua cheia, o homem da “calça de mescla azul” ia namorar do outro lado do rio.A sua namorada era pálida,cabelos longos ,pretos e ondulados que emitia reflexos aos primeiros raios do luar. Ela parecia temer a luz do dia ,só a víamos ao entardecer,nos derradeiros raios de sol que ela saía para recolher alguma erva pra chá.O único animal que ela tinha,era um cão preto de cabeça grande e arredondada ,com pequenas orelhas pontudas.Era um lugar funesto,desolador e que metia muito medo.Durante o dia passávamos por ali pra ir pra escola,mas sempre acelerávamos o passo,não tanto por medo do cão e sim e muito mais daquela “rapunzel”,que nos “espiava” pela fresta da cortina.Nós dizíamos, uns pros outros, que ela era uma das noivas daquele de nome “ impronunciável”;e qual João e Maria ,se ela nos pegasse, devoraria nosso fígado.
Os velhos sempre contavam as histórias dos “Papa-Figo”,que roubavam as crianças e lhes arrancavam o fígado e isso nos enchia de pavor.”-Cuidem:O borrascoso ta comendo a luna!”,diziam.
Antes da meia noite tínhamos que estar na cama; e mesmo com a cabeça coberta e ouvidos fechados, ainda ouvíamos estranhos ruídos e estalos que pareciam açoites no ar; eles diziam que eram as corujas”rasga-mortalha” procurando crianças despertas.
A Esquisita era de um “cor etérea e seu velho cão ,uivava uma canção funérea tão triste com a tristeza oceânica do mar”Pensávamos nesses versos e nos enchíamos mais de pavor.
O seu namorado ia uma vez por mês a sua casa,sempre no plenilúnio ,nós acreditávamos que ele tinha um pacto satânico ou um segredo guardado para ser o namorado da “esquisita”.A sua “calça de mescla azul” fazia um estranho ruído tsiiiiiii tsiiiiiiiiii tsiiiiiii tsiiiiiiiiii.,quando roçavam uma perna contra a outra, era um cicio curioso e assustador.Quando ele parava fazia-se um silêncio absoluto,sepulcral,temível.Quem será ou o que será que ele tinha pego pra levar pra sua amada.Ele sempre passava com um saco grosso de estopa nas costas,o que será que ele carregava? Ele sempre nos deixava assustados. Ainda hoje podemos ver aquelas enormes orelhas e nariz adunco,em meio aqueles dois olhos pequenos e faiscantes.Tínhamos medo de olhar para os seus olhos.Os velhos diziam que ele,como as cobras,hipnotizava as sua vítimas e as levava naquele saco.Eles diziam também que devíamos fechar os ouvidos pois ele murmurava encantamentos em uma lingua estranha e antiga,a lingua dos bruxos,que nos seduziríamos, como as sereias fazia para os nautas.Eles Assumiam várias formas e se soprasse nas nossas narinas um inebriante,podia dominar e escravizar até a terceira geração,eles diziam:-"Pelos nossos avós,pagamos nós!"
Acreditamos que os velhos contadores de “estórias”fazem muita falta,entre uma história e outra eles nos ensinavam a fazer tranças ou esculpir madeira ou qualquer um outro trabalho manual que praticavam ,além dos segredos embutidos nas entrelinhas desses contos.Eram semelhantes aos fabulistas .Crescemos com a imaginação fértil alicerçadas nessas histórias que sempre acabam bem ,pois eles tinham a chave com abriam e fechavam todas as portas que povoavam de seres corajosos ,que se invocados ,viriam em auxílio dos indefesos.Além de nos ensinar a pensar de como sair de situações embaraçosas.Acreditamos que os contos ultrapassam a racionalidade com os seus mitos e alegorias contribuindo para fortalecimento do caráter e sempre favorece escolha certa onde quem escolhe errado ou desobedece sempre se dar mal.
Assim , parece que mesmo crescendo e nos recusando a crer nessas tolices, ou ao menos transparecer isto, ainda os víamos nos balanços das praças.São os fantasmas que imitam o vento, nos seus assobios e uivos nas madrugadas frias e essa emissão de sons, em frequência tão baixa que se tornam imperceptíveis aos ouvidos dos adultos, somente as crianças e os animais ainda os ouvem .É por isso, que muitas vezes vemos gatos e cães inquietos como se vissem ou ouvissem alguma coisa e os adultos os tranquilizam.”Ah!.fica quieto! Não é nada”.Mas eles sabem o que ouvem, vindo muitas vezes se enroscar nos nossos pés,assustados.Assim como nós fazíamos,quando criança,nos aconchegávamos mais nos braços protetores do pai.
Fantasmas... Uma vez que eles surgem, parece que não nos abandonam mais; eles estão sempre em alguma gaveta,armário ou compartimento pequeno,estreito apertado, do seu próprio tamanho esperando o momento certo para nos fazer companhia,de repente alguma coisa sem mais nem menos, ou sem nenhum vento, os sinos de bambus se agitam parecendo dizer:Ei ! lembre-se de mim,estou aqui!.Quantos fantasmas carregamos nós?Até parece publicidade de desodorante,sempre cabe mais um quando se usa...
Ah!São tantos, que nos acostumamos a eles, e mantemos muitas vezes colóquios amigáveis e as lembranças são despertadas à proporção que nossas conversas se prolongam.
Na nossa infância ,nos dias de lua cheia,o que o mestre Catulo dizia dela,não era exagero, era real.A lua era tão enorme,descomunal; só quem viu o luar do sertão, quando criança,pode ter idéia do que é isto.A cidade apagou o firmamento. Ou o levou para o planetarium:lugar insensível e de um cientificismo frio e cruel,pois não dá pra conversar com as estrelas ou fazer um pedido as “cadentes”,sem parecer louco.
Ali,ao lado da casa tinha um galpão,onde nos reuníamos e acendia-se uma pequena fogueira que crepitava galhos verdes ,soltando “estrelinhas”e com esse galhos “vivos” e fumegantes,nós fazíamos círculo no ar,tentando formar desenhos,nomes ,amores ou simplesmente ameaçar uns aos outros,provocando corridas e risos . Enquanto os mais velhos faziam pequenos trabalhos artesanais: tranças em couro,cabeçadas,arreios. Eles contavam histórias que nos enchiam de pavor,mas sempre pedíamos mais outra...Nunca esquecemos da história do homem da “calça de mescla azul”.Ele morava por ali, em alguma das muitas casas daquele rincão desolado e distante da cidade ,onde a luz artificial era um candeeiro de “pedras de acetileno” que acrescentava-se água ,formando um gás que dava uma luz azulada e com um cheiro, muito forte, de cebola podre.Eles usavam,também, essas “pedras da luz” para colocar juntos as bananas recém colhidas e acelerar sua maturação.
Nos dias de lua cheia, o homem da “calça de mescla azul” ia namorar do outro lado do rio.A sua namorada era pálida,cabelos longos ,pretos e ondulados que emitia reflexos aos primeiros raios do luar. Ela parecia temer a luz do dia ,só a víamos ao entardecer,nos derradeiros raios de sol que ela saía para recolher alguma erva pra chá.O único animal que ela tinha,era um cão preto de cabeça grande e arredondada ,com pequenas orelhas pontudas.Era um lugar funesto,desolador e que metia muito medo.Durante o dia passávamos por ali pra ir pra escola,mas sempre acelerávamos o passo,não tanto por medo do cão e sim e muito mais daquela “rapunzel”,que nos “espiava” pela fresta da cortina.Nós dizíamos, uns pros outros, que ela era uma das noivas daquele de nome “ impronunciável”;e qual João e Maria ,se ela nos pegasse, devoraria nosso fígado.
Os velhos sempre contavam as histórias dos “Papa-Figo”,que roubavam as crianças e lhes arrancavam o fígado e isso nos enchia de pavor.”-Cuidem:O borrascoso ta comendo a luna!”,diziam.
Antes da meia noite tínhamos que estar na cama; e mesmo com a cabeça coberta e ouvidos fechados, ainda ouvíamos estranhos ruídos e estalos que pareciam açoites no ar; eles diziam que eram as corujas”rasga-mortalha” procurando crianças despertas.
A Esquisita era de um “cor etérea e seu velho cão ,uivava uma canção funérea tão triste com a tristeza oceânica do mar”Pensávamos nesses versos e nos enchíamos mais de pavor.
O seu namorado ia uma vez por mês a sua casa,sempre no plenilúnio ,nós acreditávamos que ele tinha um pacto satânico ou um segredo guardado para ser o namorado da “esquisita”.A sua “calça de mescla azul” fazia um estranho ruído tsiiiiiii tsiiiiiiiiii tsiiiiiii tsiiiiiiiiii.,quando roçavam uma perna contra a outra, era um cicio curioso e assustador.Quando ele parava fazia-se um silêncio absoluto,sepulcral,temível.Quem será ou o que será que ele tinha pego pra levar pra sua amada.Ele sempre passava com um saco grosso de estopa nas costas,o que será que ele carregava? Ele sempre nos deixava assustados. Ainda hoje podemos ver aquelas enormes orelhas e nariz adunco,em meio aqueles dois olhos pequenos e faiscantes.Tínhamos medo de olhar para os seus olhos.Os velhos diziam que ele,como as cobras,hipnotizava as sua vítimas e as levava naquele saco.Eles diziam também que devíamos fechar os ouvidos pois ele murmurava encantamentos em uma lingua estranha e antiga,a lingua dos bruxos,que nos seduziríamos, como as sereias fazia para os nautas.Eles Assumiam várias formas e se soprasse nas nossas narinas um inebriante,podia dominar e escravizar até a terceira geração,eles diziam:-"Pelos nossos avós,pagamos nós!"
Acreditamos que os velhos contadores de “estórias”fazem muita falta,entre uma história e outra eles nos ensinavam a fazer tranças ou esculpir madeira ou qualquer um outro trabalho manual que praticavam ,além dos segredos embutidos nas entrelinhas desses contos.Eram semelhantes aos fabulistas .Crescemos com a imaginação fértil alicerçadas nessas histórias que sempre acabam bem ,pois eles tinham a chave com abriam e fechavam todas as portas que povoavam de seres corajosos ,que se invocados ,viriam em auxílio dos indefesos.Além de nos ensinar a pensar de como sair de situações embaraçosas.Acreditamos que os contos ultrapassam a racionalidade com os seus mitos e alegorias contribuindo para fortalecimento do caráter e sempre favorece escolha certa onde quem escolhe errado ou desobedece sempre se dar mal.
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