segunda-feira, 19 de março de 2012

PIAU ,o pescador

Piau era o apelido de um cafuzo,dos meus tempos de criança ,na Aurora da minha vida.Homem de baixa estatura ,cabelos pretos e lisos,tez escura semelhante aos habitantes de Bangladesh.Era sobretudo calmo,tranquilo,sereno.Ele parecia uma dessas figuras que vemos banhando-se no Ganges ou em posição de Yoga,:Quedam-se imóveis e contemplativos, esperando o tempo passar...Assim, como contemplativo, ele permanecia por horas esperando por um peixe, para fisgar no anzol.
Piau parecia não ter nervos;nada o incomodava ou contribuía para modificar o seu linguajar, na altura ou frequência da voz ou nos trejeitos que o acompanhava.Fala mansa e linear.Jamais alterava o ritmo do que dizia ou o passo de como andava.Quem sabe isso se devia ao fato que ele só se alimentava de peixes? E o peixe deixam nos seus comensais um estado de placidez e tranquilidade,quase nirvana? Não sabemos porque,mas parece que a carne nos deixa mais agitados.É como se a coragem estivesse atrelada diretamente a proteína ali existente..Era como aquelas histórias infantis.A alma e a coragem do guerreiro abatido pelo inimigo é incorporado pelo o outro que o abateu,como os guerreiros do clans nos highlander:Quando um guerreiro decepava a cabeça do outro, a energia fluía da vítima e se incorporava ao vencedor.Quando éramos criança havia lenda semelhante entre os caçadores.Quando abatêssemos uma colibri,tínhamos que abri-la e engolir seu coração ainda pulsando,só assim teríamos a melhor mira do mundo...

Mas voltando ao Piau, desde que o conhecemos ele trabalhava para o Sr Romão Sabiá onde tinham um engenho de cana de açúcar e uma grande represa de água ,onde costumávamos tomar banho.A sua patroa D.(Henriqueta ?) cuja ,era conhecida como “Dona Heriquitinha”,:-”ela então dizia:”-Vá Piau,vê se pegas algum peixe pra vender.”
Piau munia-se de uma tarrafa e depois de alguns lances,trazia alguns peixinhos pra casa e ela dizia:”-Vá,Piau,vê se consegues vender esses peixes na cidade.Peça cinco mil reis”
Piau pegava os peixinhos e ia pra cidade,que ficava a uns 4km dali e oferecia a um que passava, a outro que conversava, os pequenos peixes.Dado a sua humildade ou um certo grau de deficiência cognitiva,ele sempre repetia mesma coisa.:”-A patroa disse que era cinco mil reis,eu não posso vender por outro preço.Assim ela disse..Eles,os pretensos compradores ofereciam mais ,as vezes o dobro,mas ele era irredutível.” Não,a patroa disse:-" cinco mil reis.Nem mais nem menos”Parecia não entender além disso.
Mas,Piau,quanto tu queres pelos peixes ? E se eu te pagar 10 mil por eles,tu me vendes,é o dobro do que tu queres???
“-Não,não posso contrariar a minha patroa.Cinco mil réis,ela disse..Ela disse que é cinco mil réis .E eu só vendo por cinco mil réis,esse é um Piau das três pintas.
Mas, que Piau é esse? Ah! O Sr não conhece ? é o Piau verdadeiro ele tem três pintas,veja aqui..E elevava a”enfiada” :Um cipó que terminava em forma de gancho, onde estavam os peixes.Ele exibia e repetia insistente :-“É cinco mil réis!”
Achamos que ele não conhecia outra cédula ,se não aquela de cinco mil réis,que na realidade já não era réis e sim cruzeiro.

* Piau verdadeiro,é o nome vulgar de um peixe ,cujo nome correto é : Leporinus elongatus

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