quinta-feira, 14 de julho de 2016

Das Flores



“Por que compro arroz e flores ?
Ora,compro o arroz para viver e  as flores para ter uma razão para viver!”Kung-Futse

O valor que estimamos as pessoas que nos são caras,se refletem nos nossos gestos de apreço quando recebemos e devolvemos as mesmas considerações, como se fosse um tributo,  numa troca de gentilezas que nos aprisionam nesse sagrado ciclo de eternos amigos e admiradores,quem sabe seja esse um dos postulados da lei de Amra .

Em uma certa ocasião, presenteamos a nossa dileta amiga Adriane, um singelo vaso, com uma oxalis rubra de pequenas flores amarelas, de folhas rubras:simples e exóticas.E igualmente fizemos o mesmo gesto para uma outra amiga,que igualmente acreditávamos  ser apreciadora dos valores simples que desperta sentimentos e enfeitam essa paisagem, muitas vezes, tórrida e  transitória entre "Poeira e Glória"que ora percorremos e que ,as vezes,aguçam a nossa sensibilidade e nos causam doces emoções, com as nuvens do céu de agosto quando se avizinham da primavera.Pois bem,não foi bem isso que concluímos,pois ambas nos surpreenderam:-
-A primeira nos surpreendeu duplamente,não só por cultivar a flor ,reflexo de quem cultiva e cativa uma coisa que se lhe aproxima,como também a dedicação Exuperyana de quem trata aquela tenra e “significante” florzinha com um carinho tão particular que reflete a si mesma transmudada, num gesto de tenerezza para consigo própria e para com todos os que lhe causam empatia.

Ela não só lhe dava a parte mais ensolarada das manhãs, no peitoril da sua janela ,mas também lhe dava atenção como um aconchego de meiguice e ternura tão visíveis, que parecia haver uma estreita  simbiose entre as duas,onde parece haver  uma troca de proteção e luz, com amor e beleza,num ato de distinção e apreço .Pois é apenas isso  que nos distingue nesses pequenos gestos tão afortunados, como a devoção das pérolas guardadas e protegidas nos santuários sagrados das ostras.

Quanto a outra,não poderíamos dizer nada, pois como diria Buda: os que não conseguem ver o milagre da beleza e singularidade de uma simples flor ,está fadado a se repetir sempre,numa bizarra espiral sem cor, e somente os despertos para essa sensibilidade e na busca da compreensão, podem captar a luz e a poesia  ali contidas: reflexo do Criador diluído nas suas criaturas.

JATeixeira


" Pobre das flores nos canteiros dos jardins regulares .
Parecem ter medo da polícia....
Mas tão boas que florescem do mesmo modo
E têm o mesmo sorriso antigo
Que tiveram para o primeiro olhar do primeiro homem
Que as viu aparecidas e lhes tocou levemente
Para ver se elas falavam....."
Alberto Caeiro

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