quarta-feira, 25 de junho de 2008

PRECE A DEUS




Não é mais aos homens, portanto, que me dirijo, é a ti, Deus de todos os seres, de todos os mundos e de todos os tempos; se for permitido a frágeis criaturas perdidas na imensidão, e imperceptíveis ao resto do universo, ousar te pedir alguma coisa, a ti que tudo deste, a ti cujos decretos são tão imutáveis como eternos, digna-te olhar com piedade os erros unidos a nossa natureza; que esses erros, de maneira alguma, causem nossas calamidades.

Tu não nos deste, de forma alguma, um coração para nos odiarmos e mãos para nos esganarmos; faz com que nos ajudemos mutuamente a suportar o fardo de uma vida passageira; que as pequenas diferenças entre as vestimentas que cobrem nossos débeis corpos, entre todas as nossas línguas insuficientes, entre todos os nossos ridículos costumes, entre todas as nossas leis imperfeitas, entre todas as nossas opiniões insensatas, entre todas as nossas condições tão desproporcionadas a nossos olhos, e tão iguais diante de ti;

que todas essas pequenas nuances que distinguem os átomos denominados homens não sejam sinais de ódio e perseguição;

que os que acendem velas em pleno meio-dia para te celebrar suportem aqueles que se contentam com a luz de teu sol;

que os que cobrem seu hábito com um manto branco para dizer que é necessário te amar não detestem aqueles que dizem a mesma coisa sob uma capa de lã negra;

que seja igual te adorar num jargão formado de uma língua antiga, ou num linguajar mais novo;

que aqueles cujo hábito é tingido de vermelho ou de púrpura, que dominam sobre uma mínima parcela de um pequeno amontoado de lama deste mundo, e que possuem alguns fragmentos arredondados de um certo metal, desfrutem sem orgulho daquilo que chamam de grandeza e riqueza, e que os demais os vejam sem inveja; pois tu sabes que nessas vaidades não existe nada para se invejar, e nada de que se orgulhar.


Que todos os homens possam se lembrar de que são irmãos!

Que tenham horror da tirania exercida sobre as almas, assim como consideram execrável o banditismo que arrebata pela força o fruto do trabalho e da indústria pacífica!

Mesmo que os flagelos da guerra sejam inevitáveis, não nos odiemos uns aos outros no seio da paz, e empreguemos o instante de nossa existência para abençoar, igualmente, em línguas diversas, do Sião à Califórnia, tua bondade que nos deu este instante.
François Marie Arouet

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