quinta-feira, 17 de março de 2011

Dalits, os intocáveis




"Fernando Braga da Costa, em sua tese de mestrado em psicólogia social, trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. E pode constatar que os trabalhadores braçais são ‘seres invisíveis, sem nome‘,em uma ‘invisibilidade pública’, onde a percepção humana condicionada à divisão social do trabalho, enxerga somente a função e não o individuo."

Equivocam-se todos aqueles que acham que atitudes isoladas,irá mudar alguma coisa na sociedade desse modelo de mundo,em que vivemos.
Existem basicamente dois mundos , e alguns intermediários.O Grande Mundo,onde localizam-se todas as metrópoles.E aí,de uma forma ou de outra somos meramente números; e os pequenos mundos das cidade pequenas,onde aí temos nome,sobrenome e as ruas ainda guardam aqueles nomes curiosos:rua das vacas,rua do Seu Maneca,etc,etc.O exemplo assim, é e será sempre trivial na cidade grande:apático.E na cidade pequena:simpático.Nas cidades pequenas,tais disparates não existem,ou se existem será em escala ínfima,praticados apenas pelos prepotentes, que são notas vulgares e sem destaque, nas margens do livro da vida de qualquer lugar e esses se comportam assim até com os seus,(pais,colegas,amigos,etc)é uma característica pessoal,é um espinho,é uma pedra no caminho,em todos os caminhos é a dicotomia necessária para formalizar os princípio do bem e do mal.
Por que tal fenômeno ocorre somente nos grandes centros urbanos e são raros nos pequenos centros e interiores?Nas cidades grandes ,acreditamos que é praticamente impossível não existir, e não é por discriminação nem contra o individuo ou classe social.Como ele constatou que são "invisíveis".E se são invisíveis,que motivos teriam pra ignorar o invisível,se ele não é visto ??? É uma espécie de apatia ou desinteresse pelo outro,não importa quem.
Tanto faz ser São Paulo, Belo Horizonte ou Curitiba,não é questão de educação formal,onde ele das castas superiores devem ignorar os das castas mais baixas com na India do bramanismo numa "sindrome dalits",onde tocar,cumprimentar os "impuros" requer um ritual de purificação.Não é nada disso.Isso seria uma fantasia delirante da sociologia vermelha que tenta justificar toda a ação social,mesmo coletiva,como uma selvageria do capitalismo e que no socialismo, está a salvação.Em Moscou ou em Pequin existem os mesmo sintomas dessa doença que atinge os grandes,indistintamente,todos os grandes centros urbanos.E tem mais,isso não é novo,podem pesquisar Nínive,Babilônia ou na Roma dos Cesares,todos apresentam em maior ou menor grau a mesma sandice. A questão,ao nosso modestíssimo modo de ver,é a desumanização causada pelo excesso de população nos grandes centros,pois no interior não são observados tais fenômenos e quanto menor for, mais solidário serão as pessoas,mais alegres e cordiais;nem que tais atitudes não sejam,de todo tão sinceras, mas ocorrências provocadas por conta dos encontros cotidianos. É uma forma de comportamento que se não for por gentileza ou solidariedade o é por ser compulsório,por ser “visível demais”:” eu sei quem você é,eu sei o que você fez:comporte-se !”É como aquelas câmeras que nos vigiam,É aqueles antigos ditos populares:”Cuidem o que dizem,as paredes têm ouvidos.”
Existem algumas reportagens sobre as pequenas cidades do interior,agora em 2011, onde se vêem crianças correndo nas praças e pessoas sentadas nas calçadas ou vendo as retretas nas praças, como nos anos 60 .A mulher publicitária e dona do pequeno comércio,diz que também sente-se invisível, onde vive.E não é por ser mulher .É uma alienação cruel e desumana que atinge os grandes centros.
Lembramos da obra de 1894, de H.G. Wells onde no futuro as pessoas vivem uma vida alienada e não se preocupam ou são solidários.Quando soam a sirena eles se dirigem,como em transe, para o mundo dos Morlock,que se alimentava de carne humana.É uma estágio de apatia que assume a personalidade humana os afastando das razões solidárias que existem nos pequenos centros. Pois ali se cruzam todos os dias, conhecem-se um a um ,etc.etc.
Lembro de dois episódios que vi:um em Florianópolis,no Amaury Veículos,no Estreito. O lavador de carros,branco caucasiano,de origem açoriana, lavava o carro de um cliente de origem africana.Ele pegava aquele pano e o jogava no chão, em meio a areia ,depois arremessava, com ódio possesso, contra aquele automóvel e esfregava de forma transtornada e agressiva ,desferindo fortes palavrões.E enquanto xingava jogava o pano no chão e com mais areia repassava na pintura do carro,dizendo-se ser merecedor de ter um veículo e não aquele...Será é porque o proprietário era de origem africana?Também.Mas se fosse outro branco, como ele, teria feito igual.A sua raiva era, e não era, contra todos.Era contra si mesmo.Pelo seu próprio fracasso,e outro está em melhor condição social do que ele, crer ser ele merecedor.Se fosse em São Paulo,diriam que era coisa de "invisível" baiano recalcado.Mas, como era em Santa Catarina com gente daqui mesmo,o que dizer???
Estava em São Paulo,certa ocasião,quando a rodoviária era ali próximo da Estação da Luz e enquanto aguardava o Pluma,pra Porto Alegre,havia o Senhor,meia idade,recostado no banco esperando,quem sabe ,seu ônibus que o levaria à algum lugar.Ali do lado tinha um gari que varria o chão e o porta-residuos era uma pá metálica ,que como uma caixa,fechava-se quando levantada e não deixava os resíduos caírem.Pois bem,o gari-trabalhador, varrendo em volta daquele viajante-trabalhador batia com toda a força aquela pá no chão e o homem sobressaltava-se no banco,ele fingia varrer e observava,quando o trabalhador-viajante fechava os olhos,outra vez ele precipitava aquela pá com toda força contra o piso e novamente o homem erguia-se no banco. Assim fez um sem número de vezes, mas aquele trabalhador,cansado que se recostou apenas para descansar algum tempo, enquanto esperava o ônibus.Ele era a vítima daquele gari-trabalhador “invisível”que o perseguia e não o deixava dormir. Por que?
Ora,se fosse uma cidade pequena,certamente o gari –trabalhador saberia quem era aquele viajante-trabalhador.Por outro lado aquele viajante-trabalhador também conheceria o Gari,ambos seriam “visíveis” ou conhecidos.Mas ali em São Paulo,mesmo,nos anos 80 já apresentava essas características de apoplexia apocalíptica que invade e domina os sentidos e comportamento dos grandes centros cujas sequelas passam por osmose e hereditariamente para os que convivem ali por muito tempo ,pois se dissermos que esses são selvagens ,estaremos ofendendo pessoas tranquilas das selvas que não merecem tal odiosa comparação.
Por outro lado essa comparação com “burgesia”,cheira ao bolor que soprou do velho continente que com sua mania de colonizar e impor seus ideais e ideologia ultrapassadas .E os colonizados ,ainda acostumados a receber espelhos e acreditar que tudo o que vem desse neologismo caduco e colonialista representa a verdade.A verdade é absoluta e não muda nem se transfigura.Assim se comportaram os babilônios nos seus estertores,assim se comportam as novas bizâncios que se degrada enquanto procura cura para doença da alma e interpretam mal a sintomatologia.Deus não está nas sinagogas,igrejas ou mesquitas mas diluído em todas as formas desse universo palpável e impalpável,visível e invisível.As pessoas estão perdidas quando faltam essas referências e pagam para ser felizes.Tentam comprar a felicidade rotulada de BBB,de novelas,das mil e uma noites de orgias até anunciadas nos classificados .Quem sabe precisam ouvir de novo “a canção da criança”adormecida dentro de cada um,para se reencontrarem.
JATeixeira
http://tubaltrentino.blogspot.com.br/2009/09/cancao-da-esperanca.html

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