segunda-feira, 7 de março de 2011

Les Reviers de Janvier




Estamos ouvindo agora Keren Ann que canta, com primorosa suavidade, a canção “Les Reviers de Janvier” e mergulhamos nas nossas lembranças, nas enchentes desses meses da nossa infância, nos banhos, nas bicas generosas dos telhados, nos açudes transbordando;quando as águas ultrapassavam o leito natural dos rios ou represas que as mantém confinadas durante todo o ano, ou nos casos dos rios, sem permanência, que vão além do seu habitual e comedido “righe” e ultrapassam as várzeas,alagando e trazendo vida e morte num paradoxo de verão e eles dizem os açudes sangram -ou sangramos nós,nas nossas lembranças em lágrimas contidas,sentidas...Na “Aurora” da minha infância , não conhecíamos essa expressão:”sangrando” e sim “o rio está vazando,o rio tem água vazante”que inundava as terras baixas e onde encontrávamos alguns peixinhos perdidos, que como o Nilo vitaliza as suas margens.Hoje,penso que o poeta quis dizer que ele “Sangra...” querendo não nos deixar. Lembro do longínquo 1893, do “Vaza Barris”,rio que banhava a lendária Canudos e da chacina em nome de um nova pátria sem rei e nem por isso melhor.Lugar inóspito, perdido na imensidão do “nada” que só ficou conhecida devido a essa beligerância e a epopéia escrita por Euclides da Cunha:Os Sertões.
Mas,voltando a Keren Ann e o “Les Rivières De Janvier” ela diz

” Restons ici, les jours ne passent pas et Paris est trop loin
L'aube est claire et la vie bien plus claire
D'ici on peut longer les rivières de Janvier.

Aqui,das nossas lembranças, os rios de janeiro também não passam,as águas não findam, elas estão eternamente presentes nesses momentos adormecidao e uma canção qualquer, numa melodia suave, desperta esse redemoinho de paixões que nos diz desses rios,que eles não estão tão longe que não possam ser evocados e que outra vez possamos nos banhar e nos revitalizar em suas águas.
JATeixeira

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