terça-feira, 8 de julho de 2014

A Palestra




Bem,todos os que se dispõe a assistir a alguma palestra,pouco importa o tema, e se  vai com o espírito aberto a esse fim proposto, sempre irá colher alguma coisa, por menor ou relevante que seja o assunto ou o conteúdo apresentado,sempre algo vai permanecer e fazer parte do mosaico que nos compõe e das  relações que mantemos ao longo da jornada ,na vida dessa dimensão de espaço-tempo.

Por outro lado,mesmo que soubéssemos e entendêssemos a complexidade do tema:Vida e Morte e sua vasta abrangência ,da busca e  em cujos anseios  estão adormecidos nas nossas constatações diárias: que não se revela, a não ser que cavemos dentro de nós mesmos.Por alguns momentos nem tínhamos reparado ou  dado a devida importância e, essas fagulhas, parece que  ela nos tiraram da letargia ,do sono fortuito -desperto, e por si só, passamos a ver que as coisas  se revelam , quando o ouvido cauto atenta para o que ouvimos de outrem na verbalização de  tais conteúdos.

Muitas vezes o que nos frustra é termos esperados mais do que foi nos dado, e esse lamento fica por conta da expectativa do momento  disperso...Onde era preciso se ater a fenomenologia da vida para transpor as concepções plantadas,dogmatizadas e armazenadas na nossa compreensão dessa transitoriedade.A vida e a morte são apenas opostos de si mesmas,Não podemos aceitar uma ou  outra ignorando essa obviedade:Perit ut vivat(perecemos para viver)

Morremos e renascemos todos os dias :na oxigenação que renova,a  célula que se substitui,o fio de cabelo que cai,nas milhares de pequenas ações invisíveis e visíveis ,do nosso cotidiano.No momento que passamos a compreender o sentido da morte,a vida passa a ter mais sentido,passamos a valorizar mais esse interlúdio entre a chegada e a saída :as cores são suavizadas nesse ocaso , o sabor obtido das nossas refeições diárias despertam sensações esquecidas,os nossos ouvidos passam a ouvir as vibrações mais sutis da musicalidade universal, diluída em cada folha que cai ou no vôo mais leve de um pequeno colibri.Toda a ternura parece se revelar em cada sorriso,em cada gesto e  até as nossas preces têm mais sentido e sublimação.


 O medo de morrer,que aterroriza a muitos,já os torna  meio mortos.Para viver com  plenitude a vida é preciso que entendamos o simbolismo da morte.Se aceitarmos a morte como inevitável e que somos parte de um ser universal,onde a luz permanece embora a lâmpada seja apagada.Torna-se mais fácil aceitar a finitude e a renovação,pois uma forma que finda dá origem a milhares de outras que surgem nesse eterno oroboros- princípio e fim, enquanto a energia flui e é incorporada a sua origem

As poesias de Augusto Frederico Schmidt são tocantes e podemos ver nessa uma alusão ao eterno recomeço.Morrer é morrer? ou um eterno renascer.?

JATeixeira


A PARTIDA

Quero morrer de noite.
          Irei me separando aos poucos,
          Me desligando devagar.
A luz das velas envolverá meu rosto lívido.

Quero morrer de noite.
          As janelas abertas.
Tuas mãos chegarão aos meus lábios
          Um pouco de água
E os meus olhos beberão a luz triste dos teus olhos.
Os que virão, os que ainda não conheço.
          Estarão em silêncio,
          Os olhos postos em mim.

Quero morrer de noite.
          As janelas abertas,
Os olhos a fitar a noite infinda.

Aos poucos me verei pequenino de novo, muito pequenino.
O berço se embalará na sombra de uma sala
E na noite, medrosa, uma velha coserá um enorme boneco.
Uma luz vermelha iluminará um grande dormitório
E passos ressoarão quebrando o silêncio.
Depois na tarde fria um chapéu rolará numa estrada...

Quero morrer de noite —
          As janelas abertas.
Minha alma sairá para longe de tudo, para bem longe de tudo.

E quando todos souberem que já não estou mais
E que nunca mais volverei
Haverá um segundo, nos que estão
E nos que virão, de compreensão absoluta.

Augusto Frederico Schmidt

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