sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A defesa do deficiente





Ele era  conhecido apenas como Francisco e tinha uma alcunha maldita: “Chico Mêi Cu”.
Isso ocorreu nos anos 20 na cidade de Fortaleza de Mathias Becker, onde um pobre deficiente físico, sem família , perambulava pelas ruas do centro, onde vivia de pequenos  biscates e da bondade de alguns que lhe davam  sustento.Muito quieto, parecia ignorar as zombarias desferidas  na  alcunha que tinha: “Chico Mêi Cu!”. Gritavam muitos:crianças e adultos.Foram anos de perseguição maldosas e destratantes .

Em ocasião, num ato de descontrole,ele atingiu a um desses, que o humilhava constantemente, com um golpe de um pequeno cutelo,levando-o a óbito  .Imediatamente foi preso e levado à cadeia pública, onde ficou aguardando julgamento. 

Ninguém se habilitava a defendê-lo,até porquê o morto era de família abastada e seria um vexame fazer uma defesa  já dada como perdida.Então, em sua defesa apresentou-se diante do Júri o renomado advogado Quintino Cunha. Após as acusações vigorosas da promotoria, que o acusava e mostrava a ameaça de um desequilibrado que podia, a qualquer momento numa investida, atentar contra qualquer um passante e  pedia pena máxima para o réu, o Juiz deu a vez da defesa, à qual Quintino deu início:

- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos Jurados. Em defesa do acusado eu tenho a dizer que... (Pausa).

Após alguns segundos de pausa, ele repete:

- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos Jurados. Em defesa de Francisco eu tenho a declarar que... (Nova pausa).

Após os novos segundos de pausa, ele torna:

- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos Jurados. Em defesa de Francisco eu poderia falar que...

O Juiz irritado com tanta demora em iniciar a defesa,esbraveja:

- Mas quanta demora! O Senhor irá defendê-lo ou não?

Ao que Quintino Cunha replica:

-Vejam só,Sr Meritíssimo Juiz de Direito:Ainda não decorreu um minuto em  que eu tenho me  dirigido a vós,Excelência e a essa corpo de jurado e a essa audiência, de forma gentil e respeitosa, e já vos provoquei inquietação,ao ponto de quere me prender, por desacato. Agora,vos peço que  imagine Sr Meretíssimo Juiz,Senhores do corpo de Jurados e vós minhas senhoras e meus senhores que nos assistem, o que deve ter passado esse pobre homem, todos esses anos,após anos de zombarias e troças das mais vis,em agressões continuadas.

E continuando nessa linha de defesa onde o réu era uma vítima , Quintino Cunha com toda eloquência  convenceu aos jurados a dar-lhe absolvição.

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