quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

“Laubfrosch”:Contos e Lembranças


“Laubfrosch”:Contos e Lembranças

Confessar a culpa,mesmo que seja a um bode,ajuda a expiá-la.
Aqueles que não avançam e vencem seus próprios medos, ficam reféns das sombras que veem a cada esquina ou nos próprio reflexos que se agigantam e ameaçam devorá-los ou arrastá-los para dentro do espelho, numa síndrome de Alice.
O medo nada mais é que a projeção mais sombria das nossas angústias, trancafiados nos labirintos da nossa formação cinzenta e atroz dos bizarros contos noturnos; das ameaças veladas cobrando-nos uma conduta adulta, no coração de criança.
Lembramo-nos das histórias contadas ,à beira das fogueiras,onde cada crepitar da lenha, era uma alma penada esperando o momento certo para nos puxar pras profundezas insondáveis de “dite” nos seus eternos círculos concêntricos.Onde cada subir de fagulhas eram almas penadas ou o que sobraram delas depois de serem espetadas,torturadas,arrancado-lhes as últimas esperanças e permanecer ali ,em suplicio,para sempre...Alguns contadores de histórias,sabiam explorar, com maestria, esses contos.Ao verem os nossos olhos arregalados e cheios de pavor eles aumentavam a encenação, atiravam pequenos gravetos ou pedregulhos na fogueira e nem percebíamos.O coração disparava, a voz ficava entrecortada em tatibitate, enquanto trêmulos tínhamos medo de nos ausentar e ser perseguido ou até mesmo, tínhamos medo de fazer qualquer pergunta.Nem ao banheiro queríamos ir,achando que atrás da porta ou no silêncio da noite as gotas que caíam eram os caçadores disfarçados,a nos espreitarem.Eles transformam pequenos animais em monstros perigosos que aguardavam silentes a oportunidade de nos devorarem.Os sons das noites em seus ruídos e pios são convertidos em armadilhas fatais para os caçadores de crianças travessas.
Existe uma rã grande e albina ,que conhecemos aqui como “laubfrosch”( Hyla faber).Essa rã emite um som semelhante a uma criança chorando e eles aproveitam pra dizer que são os recém apanhados nas redes dos caçadores.As imagens dessas histórias estão profundamente armazenadas nas camadas mais sombrias das nossas lembranças,que não ousamos ou queremos abrir e explorar.Parecem que esses segredos,quando evocados ou acordados nos tornam crianças outra vez e crianças assustadas que querem evitar a qualquer custos esses “zeitgheist” do passado.
Tempos atrás,comprei uma roçadeira,coloquei botas,óculos e me pus a roçar o taboal,na volta da lagoa.De repente,paro e olho pra baixo e vejo dentro da minha bota uma dessas grandes “laubfrosch”,olhando pra mim ,com aqueles grandes olhos de pupila alongada, que não piscavam,pareciam estar a me dizer qualquer coisa de ininteligível.O que fazer ?Tinha que tirá-la dali.Não sei quanto tempo transcorreu nessa indecisão, pois estava sem luvas e aquela sua pele fria,pegajosa lembrava-me as redes de captura de crianças, dos caçadores noturnos, que as colhiam se tentavam fugir e aquela viscosidade impedia.Parecia aqueles papeis para capturar moscas.Sentia-me imobilizado por uma coisa tão pequena e ameaçadora.Como se estivesse diante de uma naja ,hipnotizado a espera de ser deglutido.Quanto mais o tempo passava parece que ela se tornava maior e mais ameaçadora. Embora ,conscientemente,saibamos que são animais úteis e mesmo que quisessem não teriam como nos fazer algum mal,são completamente indefesos.Nós,sim,podemos causar-lhes danos. Mas o encanto se desfez,vencendo meus próprios anseios e medos, mais depressa que pude ,enfiei a mão dentro daquela bota, e mesmo tendo emitido um grito de horror, a peguei e joguei-a para o mais longe que pude.Tempos depois, quando cruzava com elas, já não sentia o mesmo sobressalto,mas um respeito nos mentíamos distante um do outro.Quando se fazia preciso,a pegava com luvas para afastá-la da nossa proximidade.O curioso,que esse sobressalto não ocorria ou ocorre com cobras,sapos,etc.que não nos intimidam.Mas quanto a “laubfrosch”. só elas e especificamente a Hyla faber,devido aquele “choro de criança” ,nos deixavam imóvel,fazia o sangue congelar.Pareciam ser maiores e assuatadoras,mas como diz Esopo “O hábito torna suportável até as coisas pavorosas.” ou seja: o melhor meio de vencer o medo é andar de mão dadas com ele.A não ser que pensemos como aquele interno:Eu sei que “ela” não pode me fazer mal,ela é apenas uma galinha mas,será que ela sabe que eu sou um homem e não um grão de milho???Diante disso,preferimos o conselho do sábio provérbio chinês,que diz:” As vezes não podemos impedir que o “pássaro” do medo, ansiedade e preocupações nos assustem,ensaiem seus vôos sobre nossas cabeças,nossos pensamentos ;mas podemos e devemos impedir que eles façam ali seus ninhos.”
Repito:A confissão do pecado,torna a pena mais leve.

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