segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Moeda na Boca obolo para Caronte

« E 'l duca lui: "Caron, non ti crucciare:
vuolsi così colà dove si puote
ciò che si vuole, e più non dimandare". »
(Inferno III 94-96)*

Nos rituais da civilização Greco-Romana havia o costume de colocar moedas,na boca de seus mortos,para pagar a travessia feito de barco no rio da morte Styx(stige) dos romanos ou Hades dos Gregos .Se não tivesse nenhum óbolo(moeda de prata) o barqueiro Caronte não leva o morto que ficava assombrando o mundo dos vivos

Quando criança,na Aurora da minha vida,lembro-me de um assassinato ocorrido.Foi uma coisa horrenda, onde o ex-noivo assassina a ex-amada com dezenas de facadas.Contaram que ele não aceitava o fim do romance e por isso teria cometido tal ato ,cruel e insano. Naquela época os mais velhos comentaram por muito tempo o tal ocorrido. Um detalhe que sempre chamou muito a minha atenção, foi o fato de terem colocado uma moeda na boca da vítima.Essa moeda, segundo as crenças populares destinava-se a desorientar o assassino, que voluntariamente,depois de vagar sem rumo alguns dias, entregou-se a polícia. Nunca acreditamos em tal hipótese ,por mais romântica ou lendária que fosse.Preferimos crer na hipótese mais racional que a desorientação ocorreu por causa do remorso aliado ao sentimento de culpa,pois afinal ele não era um assassino no sentido lato da expressão,foi um homicida casual.Ele cometeu um crime doloso, por conta de um estado temporário de insanidade aliado a “coragem” conferida pelo excesso de bebida.Dizem que hoje ela virou santa,tem até uma capela,onde a chamam de mártir.Entendemos mártir e martírio como uma expressão de ameaça relativa a fé,o que não ocorreu.Ela não foi morta pela sua fé religiosa e sim por uma recusa amorosa.De qualquer forma, muitos procuram um apoio para justificar a sua própria falta de fé em Deus e apelam para elementos do cotidiano onde estão alicerçados todos os fanatismo que têm registro a história,Canudos que o diga.Sua voz ainda reverbera nos sertões da Bahia assim como o monge do contestado ainda povoa a imaginação e a fé no messianismo .
JATeixeira

* Os Versos de Dante (Inferno, III, V e 95-96, 23-24) se referem, em geral, a inutilidade de se opor uma ordem que parece arbitrário, de querer modificar uma situação a ser decidida que pode impor aos outros a sua vontade sem ter que responder a ninguém. E um convite, amargamente irônico,à resignação.

Nenhum comentário: