terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Fantasma da Infância

Nem sempre os fantasmas que povoam nossa infância,nos aasustam,eles não são os mesmo que povoam a nossa adolescência ou idade adulta,parece que esses também amadurecem e nos acompanham durante toda a nossa existência. Acreditamos que cada um de nós,tem os seus próprios fantasmas ,aos quais vão se juntando outros e mais outros... a cada etapa da vida.

Trazemos atrelados os fantasmas das viagens de trem, onde ouvimos,ainda, as rodas nos seus sons de submundo, com os ruídos que acompanham os deslocar dos vagões,apitos que ecoam na alma e nos acordam em sobressaltos,como se aí estivéssemos;parece uma realidade paralela que evocamos e que o deus Hypnos nos permite vivenciar.As vezes lembramos cada minúcia como se fôra recém-ocorrida, como tentar saber a distância que nos separava dele,simplesmente encostando o nosso ouvido no trilho...Víamos cada dormente onde assentavam-se aqueles trilhos e pensávamos no trabalhos dos lenhadores e na dor daquele que abraçou o tamarindo, que tombou sob o machado bronco e não mais levantou da terra...
Ouvimos os didididis dádádádás da telegrafia nas estações,naquelas palavras que enviadas em código Morse.Imaginávamos, à época, que essas palavras saindo dos manipuladores e esses telegramas desfilavam pelos fios, indo de uma estação à outra e muitas vezes acertávamos a esses fios, na esperança de vê-las cair.Uma certa ocasião subimos no poste e quem caiu fomos nós. O dono da Farmácia o doutor “bastin”,suponho que Bastos deveria ser seu nome e carinhosamente,chamavam-no de “bastin(nho).Éramos seu freguês antigo e quando ele nos via,já dizia:-Tu, outra vez??? E saíamos dali com braço na tipóia.
Nas estações tinha tipos humanos dos mais variados: desde essa gente apressada que viaja pela primeira vez e ,meio atoleimados,olham com olhos arregalados para todos ,sem saber aonde ir... Até aqueles que fingem esperar ou se despedir de alguém... e até acenam, com esses lencinhos com bordas de rendas, numa despedida final com os olhos vermelhos e lacrimejantes.A mulher do escrivão sempre entrava em pânico quando ele viajava...Parecia a última vez.E a mulher do dono do bar se divertia...Sempre tinha mais clientes,quando ele viajava pra buscar bebida.

As primeiras vezes, em todas as experiências são imagens que não se apagam,são fantasmas que acompanham... Crianças que viram sorvetes ,no palito,pela primeira vez e o querem embrulhar para levar pra casa...Vendedores com os seus cestos,bandejas e sacos vendendo aos viajantes que passam.Nos recordamos dos “espertos” que cronometravam o tempo de parada em cada estação e quando o trem estava pra sair,eles compravam alguma coisa e dificilmente tinha dinheiro trocado,pagariam na volta,eles diziam....
Uma ocasião,um desses esperto,com o trem já em deslocamento gritava em altos brados:-”Aqui é terra de Chifrudo.Todos aqui são cornudos e vadias !Aqui não tem homem !” E tinha...De repente ele foi arrancado de dentro daquele trem.Nada mais era do que Sr José Vicente, o delegado de ofício ,que levara filho pra viajar e encontrava-se na borda da plataforma.Acreditamos que ele deve ter tido uma aulas de bons-modos e não tenha desferidos mais tais grosserias.E nos parece que ele gostou tanto dali, que passou um mês regando os canteiros da praça da cidade e não era a moleza de hoje com mangeiras e água canalizada.Eles raspavam-lhes a cabeça e levavam duas latas de água,no ombro, do rio até a praça,o dia todo...
“Gasolina”
Ainda vemos a imagem daquele veículo que chamavam “gasolina”Era um vagão em miniatura,parecia uma kombi de hoje.Paredes de madeiras e motor a gasolina.Desenvolvia uma velocidade maior que o trem a vapor.Eram os engenheiros,Inspetores ou outras figuras importantes que a utilizavam pra inspecionar as estações e a própria ferrovia.Todas essas imagens que não se diluem,ora por outra elas se mesclam a realidade presente, quando um “fischio” qualquer chamam a nossa atenção!
Hoje essas estações,não mais existem.Os seus vagões que embalaram tantos sonhos,sonos,canções também são fantasmas e quem sabe dessa forma contata aos seus antigo passageiros para relembrá-los que ela ainda permanece...Eles sufocaram as estações,suprimiram suas linhas ,transformaram suas “gare” em comércio mas,ali estão diluídos a alma de todos os milhares de passageiros que usaram esses trens para serem conduzidos a algum lugar,foram felizes nessas viagens

Nenhum comentário: