terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Maçanilha* do Bolicho do Alegrete



A primeira vez que ouvimos falar da maçanilha foi lá no Alegrete,quando fomos ao Itaquí,terra do meu amigo Zeux,na invernada de 1971.
Estudávamos no colégio Maria Rocha,em Santa Maria e quando entramos em férias fomos pra Itaquí.Seguimos de trem Húngaro de Santa Maria até Alegrete e de lá até Itaqui, de ônibus.

De Alegrete até Itaquí são quilômetros e quilômetros de campos ondeados a perder de vista. Parece até que aves carniceiras são raras,pois podemos encontrar de vez em quando, algum cordeiro guacho,morto e seco,perdido naquela imensidão da campanha. As pequenas coxilhas e os capões-de-mato quebram a rotina da paisagem, enquanto o velho minuano assobia indicando que vem mais frio “do-lado-dos-castelhanos” .Em meio aquela campanha, o ônibus também “quebrou”. E como era frio aquele dia... Embora estivéssemos bem agasalhados,a temperatura fazia tiritar com os seus 4 ou 5 graus negativos ,que devido ao minuano, que soprava da Argentina, dava-nos uma sensação térmica de muito mais frio;só mesmo uma grappa com “café quente de chaleira” ou em meio ao chimarrão,tornava aceitável as agruras daquele frio.

Para sorte nossa ,ali do” ladito” do ônibus tinha um daqueles”bolichos de Campanha” onde tem de quase um tudo :desde creolina, para trabalhos da lida campeira, até mel de camoatim com guaco,pra curar qualquer “rouquidão”.Tomamos um chimarrão com flor de maçanilha,ali próximo do fogão,onde ardia alguns nós de pinho,deixando o aquele frio mais suportável, e que chimarrão buenaço,tchê !

Flor de Maçanilha

E ali naquele bolicho de campanha,
em meio, aquela coxilha
Uma cuia me acompanha

Num mate, mesclado, com boa caña
E cevado com a flor de maçanilha...

Onde o sabor do amargo se adoça,
Em meio a esses pagos,sendas e trilhas,
Nos lábios dessa Xirua moça...!

Pois nem mesmo a estação ou o tempo,
Senhor de todos os invernos,
Apagou da memória ,esse calor eterno
Gravado,para sempre,nas minhas lembranças...



Dali fomos até o Itaquí,”das barrancas de histórias tantas do rio uruguai”.
Capatazia de Itaquí.
O Sr Pompilio,pai do Zeux trabalhava na Capatazia do porto entre Alvear e Itaqui.Era uma pequena aduana,posto de fronteira, entre Brasil e Argentina.Os brasileiro iam a Argentina comprar farinha de trigo,azeite de oliva entre outros, onde a diferença de cambio nos era conveniente e eles também vinham as compras no Brasil.Aqueles pequenos barcos cruzam o rio uruguai,onde cada um exibe uma bandeira na popa.Os brasileiros exibem a bandeira do Brasil e os correntinos,exibem a bandeira Argentina.Estivemos algumas vezes em Alvear onde compramos vinhos, jeans,perfumes,entre outras bugigangas,cujos preços era mais vantajoso do que no Brasil.Comprei ali um “bombilla” de chimarrão feita em alpaca(...)que tinha no bojo uma pequena dobradiça que permitia abrir e limpar .
Ali em Itaquí,deixamos alguns amigos:a família Vilhalba d’ Almeida: o Bolinha(Otomar) irmão do Zeux,suas irmãs(2) e Sr Pompilio com seu Alpha Romeo Italiano,o primeiro carro que vi que o indicador de velocidade não era um ponteiro e sim uma cinta vermelha de mercúrio(?), que marcava a velocidade desenvolvida e o Protásio,primo do Zeux.
Burrinchó de Itaquí
O Zeux convidou a namorada e umas amigas para dar umas “volteio de auto”,quando os brigadianos “atacaram”.Ele não tinha habilitação e formou-se um entrevero ,onde os brigadianos queriam apreender o veículo,por ele não poder dirigir.Queriam levar pra delegacia,todos eles.E enquanto tentava resolver o impasse o “Bolinha” foi me chamar,pois eu já tinha “CNH”,e em meio aquela discussão a namorada do Zeux recusava ir junto com os brigadeanos, até a delegacia aguardar pelo Sr,Pompilho.O brigadeano,entendeu que ela não queria que ele fosse junto no auto e disse-lhe assim:”-Escuta aqui,moça,por que tu não queres que eu vá junto?,Tá pensando que brigadeano é cruza de égua com burrinchó?”


Ravioli Escobar d’Almeida
A mãe do Zeux (scusa,mas não consigo me lembrar o nome,mas não esqueci o Ravioli)fazia um RAVIOLI,um dos melhores que já comi. Ele é semelhante ao Pierogi,(pastel em Polonês)típico da cozinha polonesa.O Ravióli,é recheado com queijo,carne,etc já o Pierogi é recheado com “quarck”,"sauerkraut",etc Bem,mas aquele Ravióli da “Frau Escobar d’Almeida(D.Tereza)”,Hummm! Que “sauce!” encorpado e generoso .Que Ravióli bom,ainda hoje sinto o aroma e sabor daquele ravióli com “sauce” de manjerona,e teimo em querer comparará-lo, quando experimento, a algum outro feito em casa .E quando me esquecia o nome daquela massa eu sempre perguntava pro Zeux,como era o nome daquele prato com “pastel cru”:Ele dizia não é cru.É ravióli.
Nunca mais voltei ao Itaqui,quem sabe um dias desses,ainda volte.Mas,lembro ainda do passeio no campo do tio e de ter comido ali, tanta bergamota com batata doce e repolho cozido,que fermentação...dava pra alimentar um motor a gasogênio !
De lá fomos até Uruguaiana e cruzamos a ponte para “Passo de los Libres,Província de Corrientes”,mas isso já uma outra história,qualquer dia ,quem sabe,se Atena me permitir eu continuo...
*Matricaria recutita é o nome científico da maçanilha

JATeixeira

4 comentários:

meperdidemim disse...

Entrei casualmente, parei li e gostei, estive ai nesses lugares em minha infancia e hj me fiz criança, obrigado... bjs
Adriana
Se quiser me visitar:
http://meperdidemim.blogspot.com

Jaques A Teixeira disse...

Adri,

Estive lá no teu Blog,não te perdeste,não.Estás muito bem encontrada !
Obrigado pela visita.
Volte Sempre !

JAT

Ariela Dedigo disse...

Olá!
Encontramos essa publicação por acaso, na verdade "googleando" sobre as propriedades medicinais da maçanilha. Sou filha do Zeux, neta do Pompílio e da dona Tereza - que cozinhava maravilhosamente bem mesmo. Mostrei o post p/ meu pai, mas ele disse não conseguir lembrar seu nome completo, apesar de conhecer bem as histórias que contas aqui. Se puderes, mande mais pistas para que eu possa contar p/ ele e, quem sabe, ele lembre!!!
Abs,
Ariela

Jaques A Teixeira disse...

Ariela,
Que bom que encontraste essa postagem.Às vezes lembramos com bastante carinho desses que conhecemos e percorremos juntos parte do caminho nessa trajetória que chamamos vida.Tempos atrás fomos a Tapejara e dali até Ibiaçá,onde morava o Ivanir Secco.Éramos ativos no Rádio Amadorismo e ali temos um amigo de Radio o Eraclides e conversa vai conversa vem, ele disse conhecer o Ivanir e fomos até a casa dele,ele não só não nos reconheceu como também não lembrava dos ex-colegas,etc.É bem decepcionante, porque temos grande parte desses lembranças bem vivas,e as vezes conversando com outros, que também vivenciaram essas mesmas lembranças, sempre será acrescido algum detalhe que nos escapa...
De certo agora o Zeux,teu pai,com essa nova postagem irá se recordar melhor
Abraços pra ele,
Com amizade.

JAT
PS.
Iremos postar outros tópicos sobre essa época,lá na USE